terça-feira, 29 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Na curva do meu desejo


Quando a noite adormece ao meu lado
Abraço-me com a luz do teu corpo
Silencioso, deitas-te dormente
Envolvido em feitiços-mil
Na curva do meu desejo!

Grito à liberdade que me inunde
Com a força da tempestade
e torno-me chuva a escorrer na tua pele
Sorvo as gotas que se soltam
E beijo os momentos de prazer.

Neste jogo de sedução
Emaranhado entre os dedos.
Acolho o teu calor na seda
Dos meus braços abertos
À fome do nosso desejo!

E esse olhar que sabe sorrir
Aos arrepios da minha pele
Preenche a dor deste vazio
Soltam-se os ecos na penumbra
Desta realidade ausente!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Rugas do tempo


Não tenho medo de envelhecer
Assusta-me sim a ideia
De ficar velha:
- de não conseguir sorrir
ao tempo que passa
- de não saber de cor
os pontos-chave do teu corpo
- de não me redescobrir
em cada instante
- de calar e consentir
esquecida da alegria de sonhar!

Ser noite sem corpo
Escuridão sem rosto
Nos contornos cortantes,
Nas marcas em ruínas
Que se impõe solitárias
Na serena conquista das nuvens negras
Que povoam os céus.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A tua luz é parte de mim




BOM FIM-DE-SEMANA

PARA TODOS

BEIJOS

terça-feira, 15 de abril de 2008

Calo a dor com os ritmos do silêncio


Calo a dor com os ritmos do silêncio.
Monólogo na longa noite,
Onde o sentir se preenche
De dúvidas eternas!
Não sei falar dos grãos de sal
Acumulados nas mãos
E feitos de lágrimas por derramar!
Esqueci há muito tempo
Como se constrói uma história
Com repetidas palavras de amor!
Quieta…solitária…no espaço escuro
Ignoro os sussurros que arrepiam
As entranhas da pele cansada!

Tenho o triste cheiro da poeira
Desenhada em grossas teias de aranha.
Deito-me nas mantas do esquecimento
Enredadas nas malhas do sofrimento.
Nesse espaço irreal e sem tempo
Não falo com fantasmas ou com o medo
Viro-lhes as costas e apago do pensamento
Rasgados momentos do passado!
Quero ser página em branco
Um verso ainda por inventar
Ser brisa de primavera
A esvoaçar em dias de sol!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Borboletas invisíveis


Primeiro chegaram a medo, como se não quisessem interromper aqueles momentos de encanto.
Pequenas pérolas húmidas rolavam envergonhadas pelos vidros embaciados daquele carro perdido entre a brisa do oceano e a carícia do vento.
Nenhum dos dois sabia como quebrar o peso do silêncio que entre eles levantou pesadas barreiras. Perdidos em lembranças comuns escolheram estradas diferentes para as reviver.
Aquele recanto onde os beijos tinham sabor a aventura, onde as palavras ganhavam as cores dos sentimentos e onde o toque dos seus dedos emaranhados descobriam paixões por inventar perdera todo o encantamento, todo o mistério das noites quentes de verão.
Ela observou-o pelo canto do olho à espera de uma palavra que a agasalhasse do frio tremor que lhe invadiu o corpo.
Ele respirou-lhe o ar como quem aguarda o aroma do prazer a inebriar os sentidos, até o fazer esquecer-se de si, perdido no perfume dos seus cabelos.
Juntos percorreram trilhos onde mais ninguém tinha ousado ir, navegantes de continentes que criaram entre os risos cansados.

Apanhou a chuva dois suspiros de desalento.
Perguntas que o passado transportou até ao presente e que os obrigou a perguntarem-se onde é que se tinham abandonado um ao outro, onde é que se tornaram estranhos nos sonhos que antes partilhavam.
Ele recuou até aos silêncios em que ela adormecia e acordava.
Ela estremeceu com as ausências e incompreensões com que ele a sufocava.
E nessa voz de medo que nunca chegaram a ouvir, abriram um abismo que não souberam reconhecer.
Um dia ela esqueceu-se de que cor eram os seus olhos quando o amava com a intensidade de outrora. E, dias depois, ele enrugou a testa, porque não se lembrava que os seus lábios eram frescos como a água da fonte que o despertava vezes sem conta, a arder em desejo.
Esconderam a dor fugindo um do outro e continuaram a esquecer-se…continuaram os dias iguais à sombra do que foram, até que o acaso os levou até à praia onde sempre se amaram.
Ergueram-se os fantasmas, algas de medo enrolaram-se nos seus sentimentos e assustaram-se pois tinham desaprendido a amar.
Cansou-se ela dos silêncios culpados, abriu a porta e fugiu para a areia molhada. A fina camisa colou-se ao corpo cansado e os seios subiam e desciam no peito arfante.
Borboletas invisíveis dançavam no corpo liberto e ela acompanhava aquele ritmo de salsa rodopiando vezes sem conta sob si mesmo.
Ele olhava-a sem entender, até que se lembrou que há muitos anos atrás adorava vê-la dançar, antes de a abraçar, sôfrego por aquele corpo em música…
…sentia-a insana naquela viagem que a afastou até ao mar…faltava-lhe a coragem para guiar os seus passos até à água fria que desperta os sentimentos!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Pais de fim-de-semana


A noite já tinha dado lugar aos primeiros acordes da madrugada. Na rua surgem roucas as palavras cansadas de quem se arrasta após uma longa noite de bebidas e de música. O carro continuava onde o tínhamos deixado, aninhado a um canto onde, apesar de mal estacionado, não impedia a passagem.
Ao pressentir a nossa chegada, um vulto emergiu, até então disfarçado pela escuridão da noite.
Reconheceu-nos e nós também o reconhecemos levando-nos instintivamente a procurar na carteira a moeda prometida.
Mas, os gestos eram mais lentos, certamente cansados e ensonados e a moeda perdia-se nesse longo compasso de espera para quem dá e, principalmente, para quem recebe.
Quando finalmente chegou aos dedos de procura já o “arrumador” tinha desaparecido!
Entre espantos no olhar e nas interjeições acompanhadas por ligeiros abanos de cabeça preparávamo-nos para seguir viagem rumo ao merecido descanso quando avistamos, novamente, o “nosso” guardador do carro a gesticular freneticamente.
Esperamos que chegasse até nós, afinal ele tinha cumprido a sua parte no nosso acordo tácito e nós não queríamos fugir à nossa parte.
Chegou a correr pegando na moeda com uma velocidade estranha àquele corpo que até aí parecia arrastar-se pela noite.
-Calma, não vejo nenhum carro a sair ou a querer estacionar, por isso as suas moedas não fogem…
-não é isso…é que não me posso afastar muito daquele carro!
-e o que tem aquele carro de tão especial?
Acelerou o passo e trôpegas pelo cansaço tivemos alguma dificuldade em acompanhá-lo.
Encostou o nariz vermelho, pela frescura da madrugada e por algum vinho ingerido como complemento de calor, ao vidro traseiro da viatura e suspirou de alívio.
Claro que a curiosidade nos obrigou a repetir o gesto feito por ele e não conseguimos conter a admiração que tomou conta de nós.
Incrédulas olhámos umas para as outras e voltamos a olhar para o assento traseiro do veículo à espera que a visão se tivesse desvanecido.
Mas, não...
…serenamente uma criança aparentando ter entre cinco a seis anos dormia, alheia à agitação nocturna, ao burburinho das gaivotas que esperavam o amanhecer.
-como é que isto é possível?
-eu prometi ao pai que olhava por ele, olhe deu-me esta nota (do seu bolso, a dever muito à limpeza, saiu uma nota de 20 euros toda engelhada) para eu olhar pelo puto e para lhe ligar caso ele acordasse ou acontecesse alguma coisa. Mas tem estado tranquilo não foi preciso nada - disse revirando o telemóvel entre as mãos calejadas.
-mas…mas como é que isto é possível? Como é que alguém deixa o filho entregue a um perfeito desconhecido?
-ei, moça, eu tomei bem conta do miúdo…
E, de facto, parecia preocupado!
-mas não façam nada, por favor…eu não tenho culpa e se fizerem alguma coisa ainda sobra para mim…juro que tenho estado atento!

A preocupação era visível e estávamos divididas entre chamar alguma autoridade ou evitarmos interferir numa vida que não era a nossa.
Era assustador pensar que mais uma vez as crianças eram as principais vítimas de casamentos desfeitos.
Ser Pai/Mãe de fim-de-semana não é fácil, mas aquilo assemelhava-se a uma situação de abandono parcial…tão difícil de acreditar que podia acontecer mesmo em frente ao nosso nariz.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Provocas os sentidos com o teu sabor


Falas mansinho ao meu ouvido,
À flor da pele como um sussurro
De brisa marítima a invadir
O meu corpo dormente.

Provocas os sentidos com o teu sabor,
A língua húmida a desbravar caminho
Entre os poros alagados de ti
Capturados pelo desejo que há em mim.

Fogo ardente entre as pernas
Cruzadas na cama desfeita.
Noite longa, madrugada fora
Prisioneiros de um só sentimento!

Gritos que me elevam a voz
Gestos que me prendem ao divã
Quero-te pleno, vivo e desperto
Nesta irracionalidade que nos sacia!

terça-feira, 1 de abril de 2008

…Já fui tudo, já fui nada…


Vento rebelde na tua face
Raio de sol do teu sorriso
Tudo o que sentias
Nada, sem forma nem dizeres!

…Já fui riso, já fui dor…
Transportei em mim
Toda a força do desejo
Máscara de Carnaval
Lágrima de Pierrot!

…Já fui corpo, já fui alma…
Parte do todo que quebraste
Ruína de pensamento errante
Luz palpável nas tuas mãos
Asa sem destino traçado!

Fui sem saber quem era
Ar de juventude roubado ao tempo.
Sou o que sobrou do sonho
Cais de espera prolongada
Futuro de ilusões (con)sentido!