terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pensamento Vadio



Ensina-me a voar
Por entre nuvens de algodão

Ensina-me a planar
Como uma ave sem destino

Abraça o meu corpo todas as noites
Desperta ao meu lado em cada madrugada

Faz do teu dia parte do meu.
Momentos nossos em que ninguém penetra.
Vadio o meu pensamento corre para ti
Abraças o beijo que te envio em forma de verso
E num sopro de luz devolves-me a carícia...
Adivinho o sorriso esculpido na tua face
...Sabes o prazer que em mim provocas
Mesmo quando o lençol permanece
Imaculado numa das bermas.
É o teu espaço…
Espera que lhe dês a forma
Que só o teu corpo sabe!
Que te aconchegues entre os meus braços
E cantes ao meu ouvido
Palavras de mel encantadas.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O grito do meu olhar



-Consegues ouvir o grito do meu olhar?
A dor desenhou os padrões de que se revestiam aqueles olhos que traziam todos os mistérios dos oceanos, nos cristais salgados que deles se soltavam!
Com as palavras especiais que só alguém que a sentia poderia algum dia dizer, ele murmurou suavemente, como pedindo desculpas ao silêncio por o enfrentar: "adoras perder o olhar no vazio… como se te quisesses fundir nele"!

Era a voz do amor que lhe dizia que nenhuma recusa fazia sentido, que os medos nada mais eram do que fantasmas que se esfumavam no ar com uma gargalhada de partilha … assim, o vazio nunca mais seria uma viagem sem volta a mundos esquecidos!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Labirinto sem rosto



Convido-te num sussurro silencioso
Para seres grito que se solta em mim.
Percorro-te lenta e tentadora
Em ardente convite provocante!
Labirinto sem rosto em que me perco
Espesso prazer que se desenha!
Penetro nas teias sedosas do teu corpo
Linguagem solta em deleito consumado.
No abandono da tua macia nudez
Beijos ébrios espalhados no desmanchado leito.
Invento a cor brilhante dos dias
Como se a tempestade despertasse em nós!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sons banais




Olhava para o abismo que se desenhava à sua frente, como se ele exercesse uma forte atracção sobre ela. A paisagem era árida, daquele pó velho onde nem as ervas daninhas conseguem proliferar, mas ela sentia-se atraída pela imensidão virgem daquele espaço, pelos gumes afiados das rochas que se erguiam até si.
Continha a respiração para que nada interferisse com aquele momento.
Dentro de si as emoções eram tumultuosas, sobrepunham-se umas às outras à espera de vez para explodirem, mas ela ignorava-as e continuava a absorver aquele momento, como se nada mais existisse.
Sabia que do outro lado os picos eram bem mais afiados, que havia decisões para tomar, medos para ultrapassar, vidas por trilhar…
Nada disso importava, apenas aquela imensidão que a abraçava e a fazia sucumbir.
O voo da águia cruzou o seu olhar e obrigou-a a despertar da sonolência mórbida em que tinha mergulhado.
Virou costas ao frio cujas garras se tinham afiado na pele quase violeta e fugiu daquele instante de descoberta.
Voltou costas ao infinito em que, por momentos mágicos, tinha mergulhado e regressou aos sons banais do quotidiano finito.
As palavras surgiam vindas do nada e, ao abrir a porta de casa, sabia que não lhe seria permitido adiar a conversa que tantas vezes ensaiou.
A vida recusava-se a esperar na soleira da sua porta.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pedaços de Tempo



Porque as fotos são pedaços de tempo
dentro de nós…
Partículas aprisionadas
a um momento de que nos despedimos.
Vidas em traços desnivelados
que oferecemos a um olhar de saudade!

Imagens de instantes em que o sorriso
nos banha o rosto…
iluminado por uma luz distante
que nos invade o espaço...
...e faz acreditar que há marcas
de eternidade em cada um de nós!