quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

À beira do precipício



Há na tua ausência um infinito
De pele não percorrida.
Carícias insubmissas,
Fugitivas do meu anseio.
Letras que não chegam a palavras
Caladas na clausura da noite.
Desconfio, como uma criança
Desolada à beira do precipício.
Ardem escondidas dentro de mim
As lágrimas que não se soltaram!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009



Volto a esse espaço a essa rua sem nome, pelo menos nas minhas memórias vazias. Lá te encontro. Formas que recupero de ontem. Para que o hoje não invalide o amanhã.
Um corpo. Desalento no sopro do vento norte.
Um olhar. Bebido na ilusão de um bar a fechar.

Escrevo dor. Recupero a tua atenção. Sabes do que falo aí no recanto das tuas feridas abertas.
Desenho os contornos curvados que te capto. Moldo-me. Choro seco que alimenta os ponteiros desse relógio... dessa hora já vivida.

dono.o tempo.escraviza os momentos.
eu. neste tempo sem ti!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

No hálito adormecido das palavras


No hálito adormecido das palavras moribundas
que vomitam sentimentos ultrajados
grito dores, rasgo carnes apodrecidas,
na farsa de uma vida de dias esmagados!

Vagueio nos braços da noite, onde o silêncio
Percorre descalço a oca solidão deste vazio.
Calco cinzas de mim…na mortalha
Que envolve fumos de queimada palha.

Descubro nas linhas de uma sina aldrabada
Ser filha de um passado que não vivi.
Traço nos papéis desertos da rua a coordenada
De um trilho para onde enfim parti!

Esqueço sonhos, apago a saudade
Vagabunda sem raízes em árido solo
Como se fosse a história da humanidade
Sonâmbula e adormecida no meu colo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nós entrelaçados




escorrem pirilampos
como gotas de mar salgadas,
na ponta dos dedos do teu desejo.

memórias dos beijos que despertam,
o arrepio silencioso no arquear
do corpo vagabundo.

olhos fechados, suspiros dormentes,
presença viva no despertar
do sonho de sempre!

nós...muito mais que eu e tu
nós...muito mais que o sonho
nós...no nó cego em que nos entrelaçamos!

Porque amar é ter em nós
Um arco-íris de palavras descobertas
Nas cores fortes do sentimento…

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

...são asas




Os pés são asas
sem destino
As mãos são barbatanas
sem mares
Os pés são raízes
sem tronco
As mãos são folhas
Sem fruto

Escrevo viagem
Mas sinto…ausência

Os pés são o teu corpo
Sem mim
As mãos são o meu coração
Sem ti

Escrevo amor
Mas sinto…silêncio

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Des-construir o poema



Lembro-me dos dias em que as horas se despiam para nós… nuas de todos os preconceitos.
E perdidos nesse tempo voraz, em que os ponteiros ensinavam o nosso amor a despontar, des-construíamos o poema.
Rias-te por cada palavra roubada, como fruta na berma da estrada, e trazias o seu sumo até ao recorte dos meus lábios.
Embrulhavas as rimas no teu aroma e deixavas escorrer um gota no arrepio do meu prazer.


Gritava de amor
…o nosso corpo!
Silêncio de paixão
…o poema!
Vestia os trajes do desejo
…o nosso corpo!
Despia os trajes da ansiedade
…o poema!


Poesia desperta nos poros da madrugada… em nós suor adocicado com misteriosos aromas do Oriente!


Voltei finalmente e quero deixar um beijo de agradecimento a todos os que foram passando por aqui na minha ausência. Aos poucos espero por as minhas visitas em dia.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Seiva de saudades




hoje...
vou dizer-te das saudades com que
adormeço a água das fontes.
vou traçar-te os veios em que
corre a seiva que se solta de ti.
vou sentir as veias ardentes
e deixar o sangue ferver.
vou ouvir do silêncio pequenas
gotas de prazer sem fim!

hoje...
somos terra...corpo
num tempo...sem tempo!
somos beijo em lembrança
num abraço marcado pela eternidade.
somos grito, loucura, desmaio
na dor de ser nada...
somos distância vencida pelo toque
com que me percorres...
...e te percorro!


E com este post quero também aproveitar para desejar umas boas férias a todos.
Vou até um mar distante recarregar baterias para mais um ano...sempre que puder virei até aqui. Perdoem a ausência durante as próximas semanas, mas espero que continuem a passar pelos "Desalinhos" e a deixarem o vosso carinho.
Quando regressar do Brasil prometo um visita aos vossos blogs.
Beijos...já com saudades de todos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

História inacabada



Olhou as luzes que ofuscavam as dores escondidas nas esquinas da cidade, percorreu os destinos magoados de quem se esqueceu dos dias, relembrou promessas adiadas para um depois que nunca chegou...
...e as lembranças teimavam em dizer que era só um dia engalanado de luzes, doces recordações envoltas no papel celofane da tentação!
Um dia...nada mais do que um dia!
Uma soma de horas, horas que se abraçam como corpos em ondas de paixão!
Uma soma de minutos, minutos que sussurram ecos de sentires distantes!
Uma soma de segundos, segundos de palavras ausentes nas linhas marcadas da tua mão!

Olhou-se ao espelho e gostou do que viu, feliz por não ter hesitado mais do que meia dúzia de minutos antes de entrar na loja.
O vermelho sempre tinha sido a sua cor favorita… Calor, paixão e alegria tudo se misturava nesse tom aquecido pelo raiar solar dos trópicos e ela sabia que a sua vida podia ser apenas uma soma de dias, se não os polvilhasse com a canela aromática da emoção!

Aquele vestido de um vermelho envergonhado, prometia-lhe um dia, o seu dia...um dia escrito num sentir conjugado na primeira pessoa do plural e, por isso, ela contava os segundos para que se tornassem longos minutos de prazer!
Afinal um dia podem ser 24 horas de tentações, escritas de forma indelével nas páginas entreabertas da nossa história…sempre inacabada!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sentires felizes



E assim aconteceu...
Os "In-Finitos Sentires" já ganharam forma de livro. A sessão de lançamento, na Biblioteca Municipal de Valongo, correu bem.
Os amigos apareceram para apoiar e comprar o livro...os que não puderam deixaram o seu apoio de outras formas.
Para todos os que quiserem adquirir o livro podem solicitar através do blog ou através do mail cmarques22@gmail.com. Brevemente darei indicação das livrarias onde ficará disponível.



Na mesa, a acompanharem-me na missão de dar a conhecer estes "In-Finitos Sentires" etiveram Alexandre Teixeira Mendes, da Associação de Jornalitas e Homens de Letras do Porto, eu, Fernando Melo, presidente da Câmara Municipal de Valongo e Jorge Castelo Branco, responsável da Edium Editores...a eles o meu agradecimento, por terem contribuído para este momento especial.



Os autógrafos...apesar da letra pouco atractiva!




Os amigos estiveram presentes neste momento feliz














E aproveito para deixar o meu obrigado ao Alexandre Santos que com a sua guitarra e voz musicaram um dos meus poemas, à Luísa Azevedo e à Vera Pinho que deram voz a outros dos poemas do livro e que tão bem foram acompanhadas ao piano por Pedro Lopes. Sem vocês a festa não teria tido tanto encanto.




Uma oferta de uma amiga, para que todos pudessem deixar registado os sentires sentidos, ao lerem estes "In-Finitos".

terça-feira, 9 de junho de 2009

In-finitos sentires



"In-finitos sentires", porque sentir é algo tão profundo que pode percorrer um caminho que vai de um finito instantâneo até a um infinito que a nossa imaginação e o nosso querer proporcionam.
Dos "Desalinhos" deste blog sairam grande parte dos poemas que vão compor o meu primeiro livro de poesia. Outros são originais ainda desconhecidos...uma oferta para quem o quiser comprar.
Quem por aqui passa conhece a minha forma de escrever...do blog para o papel a diferença passa principalmente pelo tacto.
Dia 27 de Junho, às 16 horas na Biblioteca de Valongo decorrerá a sessão de apresentação destes "IN-Finitos Sentires"...deixo desde já o convite para que apareçam, se puderem. Terei todo o gosto em partilhar convosco a emoção do lançamento deste meu primeiro livro de poesia.
Apareçam...leiam...e divirtam-se

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dias que se esqueceram de nós



Solta os meus cabelos longos
Na berma do teu corpo
Deito-me em profundo silêncio
Sem o cansaço dos longos dias
Que me apagam o fôlego.
Liberto-me da vida que se arrasta
Vamos correr serras douradas
De mãos dadas como dois namorados.
Vamos nadar nus entre as rochas
Que escondem a espuma das ondas
Colher braçadas de flores silvestres
Ignorar os picos que adornam os dedos
Com pérolas de sangue vermelho.
Enfeitar com margaridas brancas
O rosa entreaberto dos lábios
Que se abre ao sabor do teu beijo.
E no colchão de verde-relva
Deitamo-nos esquecidos dos dias
Que se esqueceram de nós.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pensamento táctil



Apaga-se a luz do quarto minguante da lua. Forma-se a tua forma no reflexo vaidoso do espelho. Olho, daqui, o teu corpo nas sombras da sombra em que me aninhei…adivinho-lhe os tremores nesta virose de um desejo incontido.
Descontrolo-te a febre deste querer em luta titânica contra a solidão.
Caem a teus pés palavras rasgadas no espaço anónimo das tuas mãos…
…adivinhas-me na escuridão da descoberta!
Na ponta dos dedos escorrem fios dourados da seara outonal dos meus cabelos. Inspiras o aroma de um perfume feito de enigmas sem tempo.
Descerram as pálpebras e vês em ti esta parte de mim!
Deslizo o dedo por entre as gotículas deste flute de champagne…pensas “apeteces-me” e a voz responde numa explosão de desejos…

…quando o pensamento se torna …táctil!

terça-feira, 12 de maio de 2009

contradições



Contra-adições, ou quero que sejam apenas subtrações de um desejo expresso num café fumegante nos teus dedos espartilhados de temor.
Contra apenas por ser ausência de adições de um qualquer grão de ti que espartilha os sentimentos neste corpo que perde consciência de si e se lava na água benta da purificação. Estremece em arrepios que convidam o frio para uma chávena de chá de menta adoçada com o mel que de ti nasce.
As memórias varrem o chão do pensamento e adormecem esquecidas na esquina do quarto. Toco-lhes no ombro e pergunto o que fazem ali...a tão longa distância de casa. Não sabem responder…fugiram num momento de amnésia e esqueceram o caminho de volta. Estavam perdidas naquele espaço desconhecido e recusavam-se a despertar. Sabiam-se memórias, mas não sabiam de quem...sabiam-se pensamentos mas esqueceram a forma!
Escorria nos dedos um passado tão longínquo que já tinha perdido a vida. Porque o passado adormece para sempre na sepultura do esquecimento.
No chão estendidas bocejavam indiscrições e procuravam no aconchego do vazio a sua estrutura para poderem tornar-se ocas de uma realidade sem corpo.
Contradições...
...sem adições de açucar ou qualquer conservante, a vida pode tornar-se uma toranja amarga!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Sereia…em pó de areia




Lambe a areia a pele salgada
Escorre por entre os dedos entrelaçados.
Cantamos suaves maresias
que espreitam o vagar das ondas.
…em redes de ouro
pescamos palavras encantadas,
pelo misterioso canto das sereias.
Ecoam rimas de beijos... lábios em flor
Debicam os pássaros alados
Melodias adormecidas
A despertarem sentires ocultos!
Escorre o mar líquidos
Espremidos do pó das estrelas
Cintilantes do nosso desejo.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sol de Abril


Não posso esperar que Abril passe, sentada na soleira da porta deste estranho sentir. Correm as águas mil dentro destas partículas que se fazem corpo, piam as aves num agoiro que não tem de ser obrigatoriamente mau, talvez apenas…nada!
E corre Abril, como as águas tumultuosas deste rio em que me abro, soltam-se as vozes em gritos que ecoam, dizem da solidão onde se perdem nos meandros dos dias despojados de tudo.

…e volta Abril com aromas de Primavera num ranger de dentes, onde o Inverno ainda permanece.
Amadurece a fruta no desmaiado sol, insuficiente para abafar essa sucessão de arrepios. Fecham-se os olhos na espera de um vazio que tarda em chegar!
Abracei-me ao sol que se soltou das tuas palavras e com elas Abril voltou a florir!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Horas vazias



Vazia como apenas o nada consegue estar.
Vazia como apenas a dor consegue ser.
Vazia como apenas o silêncio consegue dizer.

Tão grande o espaço deste vazio
Que oculta palavras esquecidas dentro de nós!
Tão imensa a ausência do real
Que apaga o desejo semeado em mim!
Tão intenso este passado de mágoa
Que afasta o corpo da minha alma!

No céu a lua esconde grossas lágrimas
Pérolas da noite em deserto de sentimentos
Caminha o medo ao meu lado
Companheiro inseparável de horas vazias!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Rimas a arder



Como esquecer os passos a dois
Marcados na areia molhada.
Um lento fechar de olhos
E uma balada sem hora marcada.
Dizer quanto te amo mesmo quando a voz
Paralisou no tempo.
Esquecer que as horas
foram dias de enganos
e encantar-te outra vez
naquele banco de jardim
onde a tarde nos encontra
cúmplices e abraçados.
Saber que o beijo não ficou retido
Num qualquer baú da memória
E trouxe um aroma de fim de tarde
Onde o desejo reacende
…e saber que os versos não precisam
De rimas para arderem no teu peito!

Re-inventar momentos




Colheste flores silvestres
Na Primavera anunciada
Num sussurro do meu peito.
…com elas te embriagaste
sentado na porta do tempo
para impedires que passasse.
No aroma disperso na noite
tornaste eternas as palavras
que de nós falavam!

Preciso que reinventes
os momentos e em cada momento
recries as rosas de pétalas encantadas
para que não murchem.
…e que nas pautas dos dias
nasçam claves de sol ardente
nos gemidos de um tango
que se solta do nosso âmago
…desejo selvagem
num sorriso em que me
espreguiço deitada no teu dorso.

terça-feira, 17 de março de 2009

Pecado




Colhe maçãs sem pecado,
porque o pecado mora
no pomar do teu querer…
…e veste-as com as formas
do corpo que te veste!

…quem teme o pecado?
o pecador que pecando se sacia
ou quem peca no querer de ser
...sentir!

E em lêveda procriação
multiplicam-se em embriaguês
de refrescantes néctares
…desnuda para que viver
não seja pecado e
sim prazer no
acto de (pro)criar.

Acordo nas mãos do desejo
que adormeceu em mim
e em carícias despudoradas
me e-levou a um paraíso
em que as portas se abriram
nos braços com que tu
me aprisionaste,
na prisão secreta
desta noite a que roubaram
o mistério dos corpos
…que reconstruímos
qual Criador em dia de inspirado
suor ...

porque importante é não esquecer
que o pecado é ...
somos nós!

terça-feira, 10 de março de 2009

Suave amanhacer



Sentei-me na erva molhada...com pérolas de mar nos meus olhos.
Deitei-me na terra fecunda...com desejos abertos no meu ventre.
Esperei-te nos segundos vadios...com beijos tardios na minha boca.
Desenhei-te no céu do meu pensamento...com as cores suaves do amanhecer.

Agarrei a mão que me estendeste...com o desespero da noite que chega.
Afastei da penumbra do ser...os fantasmas do vazio e da solidão!

segunda-feira, 2 de março de 2009

És o meu palco…sou a tua deixa!



És o meu palco…sou a tua deixa!

Improvisar nos quentes gestos que te ofereço
Surpreender o olhar nos teus dedos que vestem desejos
Afagar as palavras que despem os poemas do teu respirar
Espreguiçar um abraço em surdina…
…na dança preguiçosa da roupa adormecida a teus pés!
Ziguezaguear felina nos contornos da pele a estalar…
…e num monólogo a dois…ser a voz que o teu beijo cala
…e capturar o suspiro que soltas na minha boca!

Sou o teu palco…és a minha deixa!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Um filme antigo


Voei num tempo em que o teu sorriso vaidoso dançava nos poros abertos do meu sentir. Memórias amareladas que recusei apagar e que em mim habitam, como partículas do meu ser… átomos que não se separam e que de negro se vestiram!
Como num filme antigo... revivido em que as legendas se ausentaram, personagens em silêncio movimentam-se ao ritmo de um enredo previamente delineado. Jorra poesia de um alma martirizada...escorrem rimas pelos dedos ansiosos.
Quis depositar uma papoila vermelha, mas nos filmes antigos o vermelho era proibido seria pela paixão que a cor fazia explodir!?! Importante era que tudo fosse igual ao que tinha sido.
Assim o mundo não se virava de pernas para o ar, assim o mundo podia rolar indiferente…sem vida.
..e de um sépia tingido de tempo em teias de aranha zangou-se com aquele sentimento que devia estar moribundo de esperança. Ralhou-lhe com palavras arcaicas que só os dicionários revestidos de poeiras insensíveis ainda arquivavam e não entendeu porque as suas palavras eram outras e falavam de uma ausência dorida.
Lembrou-se quando a mão desceu pelo colar colado à sua pele num toque que outro toque lembrava. As carícias eram sussurros que a sua voz trazia até si. Não queria que a saudade entrasse no seu peito. Admiti-la era reconhecer que o relógio da ansiedade tinha parado de bater...e isso ela não queria, precisava de se sentir viva nas memórias que transportava e, por isso abafava o esquecimento com as mantas de Inverno e galopava no seu dorso para que ele não vencesse.
Era um filme antigo com desbotadas cores de Outono, mas no silêncio daquele quarto permaneciam as mãos que teimavam em afagar as suas...e uma papoila vermelha venceu a resistência e teimou em florescer antes que o final se fizesse em ausência de cor!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Corpo de palavras


Deixo as palavras dançarem no meu peito, como se rodopiassem dormentes nas minhas mãos. Soltam-se sementes de girassóis que procriam nessa terra de ninguém e deitam-se comigo, prenhas de desejo. São palavras de vida, palavras cheias de trigo que se faz pão, palavras que amam as mãos que as possuem e fazem delas corpo amado.
Voam de finito em infinito, cobrem de brisa selvagem o papel em que te transformas e dizem de amor...as palavras, como se tão somente para isso tivessem sido inventadas naquele princípio do mundo em que tu e eu nos encontramos.
E não voam com o vento...as palavras, fazem-se raiz de terra presa em ti…abraço que trepa em caule de nós.
Dizem dos sonhos e de horas incertas em que se baralham para novas palavras criarem e fazem do mundo um lego por construir...nenhuma babel as pode derrubar quando de palavras em silêncio se tornam palavras em que te amo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Palavras em Desalinho



Afago-te os cabelos
Com palavras em desalinho.
Abraço a madrugada
Que se estende longa
pelos nossos dois corpos a amanhecer.
Solto o desejo rebelde
A bailar faminto nos traços
marcados pelos grossos lábios.
Adivinhas-me no despertar
As formas do sonho
Que inventamos os dois
E,
Percorres com os dedos da fantasia
Os trilhos húmidos da minha vontade.
Desenhas com a língua inquieta
Mapas de um tesouro
A despontar entre nós.

…Ouço os ecos desse sentir
Repetem-se em mim
E ofereço-me à tua paixão!



Depois da festa chegou a altura do balanço.
Confesso que ponderei acabar com estes “Desalinhos”, ou pelo menos fazer um interregno para repensar a sua existência…mas gosto de aqui estar, de vos receber neste espaço e de visitar os vossos, por isso optei por continuar…talvez com o tempo introduza algumas ligeiras mudanças neste formato, mas para já continuará desalinhado como sempre foi.
Obrigada pelos parabéns e por passarem por aqui.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Em festa...




UM ANO…
Faz hoje um ano que nasceu o “Palavras em Desalinho”.
O tempo passou e este projecto ganhou corpo, vestiu formas algumas por mim imaginadas outras que me surpreenderam.
Ao longo dos tempos afeiçoei-me a este espaço…virtual é certo, mas que me deu alegrias, me permitiu conhecer pessoas que marcaram a minha vida. Sempre valorizei a palavra amigo, por isso posso dizer que aqui fiz amigos, nestes meus “Desalinhos” sorri, emocionei-me e vivi.
Sei que não sou um exemplo de assiduidade em termos de publicação, mas nem sempre o tempo e a inspiração chegaram para que os poemas surgissem e as fotos fossem tratadas como pretendia…por isso sempre optei por publicar apenas aquilo de que gostava verdadeiramente.
Não sei como será o futuro, sei apenas que quero agradecer a presença, as palavras e, acima de tudo a ternura que têm manifestado todos os que por aqui passam.
Obrigada por tudo e principalmente por estarem aqui.
Deixo-vos um cocktail de amizade e uma rosa como prenda por festejarem comigo este ano de vida.
Beijos a todos...e muito obrigada.


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Calada da noite


Quero dizer que te amo
Num sorriso envergonhado
Esboçado na calada da noite.
Inundar-me na luz da tua voz
Enquanto percorro a lenta
Madrugada em que despertamos!
Espero as palavras
Que os teus olhos
Me cantam em segredo!
Fluidos de emoções
A esvoaçarem coloridos
Nas franjas dos teus cabelos!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Silêncio em fuga


Passou por ele e não o viu.
Ele reconheceu-a, seguiu-a com os olhos embaciados e soube que estavam em universos opostos. Não adiantava agarrar a ilusão de um amor, se ela se recusava a permanecer.
Foi para casa e quando lhe telefonou a dizer que se tinham desencontrado limitou-se a confirmar elogiando o vestido claro que fazia brilhar a sua pele dourada e o verniz vermelho que ardia na areia que ela pisava.
Mas, então…estavas lá!
-Eu, sim! Mas, tu não! Toquei-te com o meu olhar e tu nem sentiste. Enviei-te uma mensagem pela brisa que acariciava os teus cabelos e tu devolveste-a sem a ouvires.
-Não te vi…
-Não me quiseste sentir!
-Lamento.
-Tiveste medo, por isso fugiste de mim.
Fez-se um silêncio vindo das profundezas do oceano, um silêncio desenhado de fuga e de medo e que a impedia de viver!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ausência


Ontem disse-lhe que não viria.
Fechou a porta pondo um ponto final na história.
Sorriu confiante como se as palavras fossem apenas uma birra infantil, sem importância.
Sabia do poder das suas mãos no corpo dela, da força dos seus sussurros na concha que era a sua vida, da mensagem decifrada dos seus beijos.
Mas esqueceu-se…dela: mulher-desejo, mulher-mistério, mulher-vida.
E esperou uma longa noite abraçado ao fumo do cigarro, olhar perdido na chávena de café frio.
Fugiu o dia e chegou uma lua cheia de nada, vestida com o negro nocturno.
A porta continuava fechada. As palavras ecoavam entre as paredes compondo uma balada de medo e saudade.
Lembrava-se agora de cada traço das suas palavras, de cada sorriso dos seus suspiros, da voz meiga sem exigências, da coragem de ser mulher em todas as adversidades.
E soube finalmente que a tinha perdido, que ela se tinha tornado definitivamente – ausência!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cobrir-te de ternura


Cobrir-te de ternura

Deixa-me ser o rasto do mar
em que mergulhas para esquecer.
Deixa-me ser o manjar
saboreado no segredo da noite.

Adormecer-te entre sonhos
matizados com cores da maresia.
Cobrir-te de ternura
no afago do toque doce.

Perder-me dentro de ti
calar as vozes da inveja…
Roubar-te palavras de mágoa
e inundá-las em ondas de felicidade!