quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A cor do frio


O dourado do Outono já tinha fugido dos ramos das árvores, o sol cansado adormeceu no leve embalar das nuvens negras que adornavam pesadamente o céu.
Deitou-se com o manto do cansaço a pesar no corpo dorido.
Decididamente o sol fazia-lhe falta, sem ele sentia-se murchar, acompanhava o quebrar do ânimo que a fazia pensar em como seria bom hibernar durante aqueles meses de frio.
O som insistente do telefone despertou-a da imobilidade em que se tinha instalado. O corpo recusava qualquer movimento, mas a cabeça estalava a cada novo toque. Na dúvida levantou o braço e sentiu um arrepio percorrer-lhe a pele imóvel… a voz que a despertou era macia, mas irónica…
-Então já sabes qual é a cor do frio?
… conhecida, mas distante!
-Tem a cor da tua voz neste momento!
-Dia mau
-E não melhorou…
-Pensei que te podia aquecer com o meu sorriso nesta tarde gélida.
Lembrou-se do sorriso dele. Quente e convidativo como nunca tinha visto. Suficientemente atraente para a arrastar para um universo de sensações desconhecidas e terrivelmente egoísta para a deixar sozinha nesse emaranhado de emoções.
-Há alturas em que o excessivo calor pode causar arrepios…de medo
-É isso que eu te provoco…
-Cinzento…sim o frio é definitivamente cinzento, nem branco nem preto, mas cinzento. Como tu. Não consegues ser transparente quando me acaricias nem agreste quando me abandonas. Ofereces-me labaredas de paixão e deixas-me com a neve a derreter entre os dedos.
Sabia que ele não conseguiria descobrir nos recantos da noite, escondidos dentro dele, a voz desse sentimento, onde estão as palavras feitas poema de uma existência!
Era demasiado egoísta para amar, por isso vivia imerso numa bruma sem horizonte, convencido que tudo tinha, mas sempre numa busca dorida do muito que lhe faltava.
Desligou o telefone, aumentou o volume do aquecimento e soube que também o frio pode ser ignorado, basta dar-lhe um pouco mais de cor!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sussurros


Agora que finalmente decidi dar corpo a este projecto, confesso que me sinto um pouco perdida.
Ideias não faltam e aos poucos elas vão ganhando forma. Mas, para já, há algumas palavras em desalinho que quero partilhar ao longo dos dias. Não sei bem se este espaço será o meu espelho ou o meu reverso, sei apenas que será o eco de alguns dos meus pensamentos
Foi por isso que criei este blog, porque escrever é para mim quase tão importante como respirar, assim vou deixando por aqui alguns “sussurros”, sejam eles em forma de palavras ou de imagens.