terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Trago no meu peito o mar em alvoroço


Trago no meu peito o mar em alvoroço
Tormentas e tempestades em explosão.
Não quero ser das ondas o destroço
Desgastada pela força da erosão!

Calo o medo deste presságio
Esculpido em letras de sangue
Escondo a dor deste naufrágio
Da imperfeição que me persegue!

Labirintos de sonhos por inventar
Nas letras de sangue deste poema triste.
Agarro as tuas mãos para me orientar
À ilha deserta para onde partiste.

Saudade derramada em espuma indecisa
Correm no rosto lágrimas salgadas.
Perde-se no tempo ventura imprecisa
Mãos carentes, não mais zangadas!

Marinheira eterna-solitária
Agreste vento por parceiro.
Amante nesta viagem involuntária
Ultrapasso por ti este febril aguaceiro!

Rendo-me à fúria que se instala
Entrego-me ao desespero da espera
Deserto de amor, sede que não fala
Adormece para sempre a altiva fera!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vidas roubadas


A cadeira de balouço continuava vazia no canto mais quente da sala.
Com o olhar fixo num ponto imaginário da parede branca de recordações ele recuou até um tempo em que os seus traços dourados se confundiam com o trigo maduro dos campos, onde as suas mãos falavam a linguagem eterna dos apaixonados.
Fugiam dos outros para se encontrarem. Fugiam dos seus medos em busca de uma descoberta permanente.
E ela adormecia na dureza do chão, com a água quente do seu olhar a afagar-lhe os sonhos.
Percorria-lhe os gomos do cabelo numa carícia distraída, enquanto os sonhos voavam até ao futuro, naquele tempo em que ela seria sua e com ele aprenderiam uma nova vida. Vida que se entrelaçava entre os dedos que nunca se soltavam.
Ela partilhava o seu silêncio com as palavras que ele não conseguia calar.
O seu olhar sereno era o porto de abrigo, onde ele ancorava sempre que as suas inquietações o levavam a procurar destinos errantes.
Não contavam os anos que estavam juntos, preferiam o sabor das gotas de amor que os alimentava diariamente.
Acreditavam que a felicidade é a conquista de um momento que a aragem brincalhona afastava mas, que a sua teimosia não deixava fugir para sempre.
Completavam-se no puzzle da diferença…

As suas mãos tinham delineados traços de história que o baú da memória não queria esquecer, mas uma dia começaram a emagrecer, os ossos sobressaíam e deixavam-no assustado, até ficar cego com o grito de dor que lhe moldou as feições serenas.
-Pouco se pode fazer
Com estas palavras simples, mas cruéis, todo o destino foi reescrito, enquanto assassinada a esperança via as raízes do seu amor serem substituídas por outras fortes, mas malignas que sufocavam a força da vida.
A luta parecia em vão…cada passo de coragem era contraposto por dois de desolação.
O corpo moribundo, a definhar num espaço que não era o dele e que não o deixava viver.
Uma raiva cega impedia-o de pensar, ouvia apenas a sua voz doce, mas firme, apesar de cansada, como se fugisse de um cativeiro distante:
-Só concebo a vida quando vivida em plenitude. Promete-me que nunca me deixarás ser uma sombra de mim mesma…
As palavras viajavam dentro do seu peito, ressoavam na sua cabeça.
Pareciam uma profecia que punha um fim prematuro a uma história cujo fim deveria estar ainda tão distante.
Ele sabia qual era o seu desejo.
-Não sei como me podes pedir isso tão friamente. Só de pensar no que está a dizer sinto calafrios a percorrerem-me todo o corpo. Sabes que nunca poderia fazer isso, és demasiado importante para mim para pensar sequer nessa hipótese.
A conversa tinha começado depois de uma visita à casa abandonada onde se encontravam em tempos que só a memória guardava.
-Só a ti é que podia pedir isso, pois sei o que significamos um para o ouro. Respeito a tua forma de pensar e acredita que nunca irei contra ela, se a vida a isso me obrigar. Mas, peço-te que também respeites a minha…só te peço que nunca me deixes a vegetar. Não há nada que me assuste mais do que ver dias, meses ou mesmo anos impedida de viver, sem consciência de quem sou, sem o uso pleno das minhas capacidades físicas e/ou mentais…em suma sem poder amar, sofrer, sorrir, chorar, pensar. Sabes que para mim a vida tem que ter um sentido, uma razão…
-…mas onde fica a esperança nessa tua decisão!
-Se isso acontecer é porque já não há esperança, ou então ela está tão distante que não chegará a tempo de me salvar.
-E como me podes pedir isso a mim, precisamente a mim, que te amo acima de tudo que tome uma decisão dessas.
-Precisamente por isso, por saber que me amas como amas é que te faço este pedido. Só quem ama com esta intensidade pode fazer o que eu te peço, só o amor te dará essa coragem.
-Isso seria roubar-te de mim e isso nunca o conseguiria fazer
-…e como conseguiria viver com um fantasma do que fui, depois deste pedido. Como conseguirias ver desaparecer o meu sorriso, o meu afago matinal, a minha voz a percorrer o teu ouvido…
-Viveria com a esperança no futuro
-…e quando soubesses que já não haveria futuro
-viveria para ti
-…mesmo se eu não estivesse lá
-continuarias viva
-artificialmente
-Mesmo assim sentiria o teu respirar na palma da mão com que te acariciaria minuto após minuto
-Peço-te que se um dia estiver nessa situação, que não me abandones num mundo sem sentido!
Ele calou-se, não sabia o que lhe dizer. Até nisso eram diferentes e, no entanto, nunca a diferença os tinha afastado.
Sorriu tentando esquecer aquela conversa de loucos
-Que conversa insana. Estamos os dois com imensa saúde, tudo isto não passa de uma ideia absurda…
O olhar dela assustou-o e ainda mais a sua voz…um súplica muda, dorida
-Claro que sim, mas quero que saibas o que eu penso…só em caso de…
Sentiu estremecer o seu corpo, ao som daquele timbre tão diferente daquele que ele conhecia
Nas semanas seguintes tudo se precipitou.
Aquela conversa povoava todos os pesadelos que enegreciam as noites longas na cama vazia.
Assustava-se com a rapidez com que aquele corpo outrora cheio de vida definhava a perdia a razão.
Ela lutava com as suas armas, pois sabia que de pouco lhe valeriam os tratamentos.
Um dia encostou os lábios pálidos de dor ao seu rosto e murmurou, por forma a que só ele ouvisse:
-Não sei viver, quando me roubaram a vida…
E o esforço que fez foi tão grande que lhe faltou a consciência para ver o mar de lágrimas que inundou os seus olhos cansados.
Sentou-se no chão com o peso de um mundo de dor a vergar-lhe as costas.
Os médicos diziam-lhe que podia ser que com o novo tratamento ela conseguisse sair do sono profundo em que tinha mergulhado.
Ele sentia-se egoísta na sua dor. Ouvia a sua súplica durante o dia, inundava-se nela durante a noite…e recusava-se a acreditar que o fim tinha chegado.
Um dia pegou no seu diário, estrategicamente colocado na gaveta das suas camisas. Aquele diário que ela escondia e com que o provocava. Tinha uma frase apenas:
-Só posso confiar em ti, só o teu amor me pode salvar.
Nunca duvidou daquilo que ela pretendia, aquela frase apenas reforçou a ideia de que ela pressentiu o que lhe aconteceu.
Naquela noite o ar estava denso como o seu olhar embaciado, a tempestade que se anunciava no horizonte adequava-se ao tumulto que vivia dentro de si.
Olhou aquele rosto de estranha dor e beijou-a dando-lhe um sopro de vida que seria o seu companheiro nos próximos tempos.
…e deitou-se ao seu lado ocupando o espaço que a extrema magreza tinha deixado vazio.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

12 palavras


A Marta do http://claras-em-castelo.blogspot.com/ e a Maria p. do http://casademaio.blogspot.com/ desafiaram-me para escolher 12 palavras que sejam as minhas preferidas.
Tarefa difícil para quem se sente tão bem rodeada por palavras. Umas vezes procuro-as outras vezes são elas que vêm ao meu encontro…palavras com sentimentos, palavras com cor, palavras com que me vou conhecendo, palavras que geram emoções, nas emoções que são o chocolate da vida.
Assim, aqui vão as eleitas:

Carícia/beijo – momentos únicos
Conquistar – porque é destes pequenos nadas que tornamos nossos, que nos fazemos pessoas
Desejo – momentos especiais
Deserto – um mundo onde o infinito é possível
Feiticeira – e a capacidade de transformarmos a tristeza em alegria e de nos transformarmos
Filha – o melhor do meu mundo
Imagens – o outro lado das palavras
Mar – porque nada me relaxa tanto
Paixão – o condimento da vida
Palavras – porque sim
Perfume – os nossos aromas, porque o cheiro é uma sensação que perdura no tempo e no espaço
Silêncio – o espaço onde encontro a minha "voz"
Volúpia – porque é uma palavra que para mim tem vida apenas no feminino


e, porque sei que todos os que por aqui passam gostam das palavras tanto ou mais do que eu, convido-os a responderem a este desafio

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

As ondas do beijo


Escrevo nas ondas do beijo
Que desperta o teu fulgor.
Imagino mil palavras
Que nunca ninguém disse.
Invento poemas com rimas
Que não se conjugam.
Soletro em surdina
As letras do teu nome.
Deixo sentimentos à margem
Soltos na imensidão do deserto
Que percorro errante.

…e o que escrevo é areia
Com que o vento brinca.
Perde-se no espaço
E nunca te encontra!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Para ti



Quando a noite se rende
Às nossas carícias
E escondida entre os corpos
Quentes e suados
Se deita em nossos braços
Sôfrega...carente...ansiosa...
Há mãos que se cruzam
Na pele feita seda
E deixam rastos
De calor ardente…
Tempestades de paixão
Explodem nas paredes húmidas
Da penumbra do quarto.
Das carícias que se adivinham
Soltam-se gemidos
Surdos...
E...quando os gritos se calam
Na voraz ansiedade...
Deixo de ser prisioneira de mim
E percorro o caminho
que me leva até ti!


apesar de achar que o amor não deve ser prisioneiro dos dias… sejam felizes

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Às tuas costas o fardo do mundo


Às tuas costas o fardo do mundo
O peso real da intemporalidade
Triste sina de vagabundo
Sem tempo para sonho ou saudade.

Desenhas em longos espaços vazios
Tortos traços de barcos de fuga
Mapas de tesouros imaginários
Onde a tua vida não se conjuga.

Encontras no mar tristes destroços
De desejos de ave faminta
Desfeitos na tempestade os esboços
Vestido o luto com que a noite se pinta!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Reconquistar o meu nada vazio!



Naquela tarde soube que ele seria meu, apenas meu!
O apelo dos corpos sedentos era tão forte que o tempo se calou espantado!
E, nesse silêncio, onde o tempo se escondeu, todo o espaço era feito de paixão!
Tempo e espaço rendidos a dois corpos ínfimos.
Tudo era nada…um momento pleno de vazios absolutos.Só de vazios se pode desenhar o espaço.
Só de vazios se pode preencher o tempo.
Só de vazios se pode criar tudo.
Se eu era o nada e tu tudo…
Tudo recebi para que não fosse nada. E, o meu nada te dei para que o moldasses com o tudo que era teu!

Com tudo, fiquei igual ao tudo que sempre foste
…e não gostei…
Perdi o meu nada vazio, o meu espaço e o meu tempo!
Não era nada, nem tudo
…apenas uma cópia…
E as cópias não têm vida
E as cópias não têm alma!
Soltei-te no teu espaço e no teu tempo, para conquistar o meu vazio
…para me reconquistar!

You make my day / Muito bom!

You make my day / Muito bom!

Recebi este prémio da http://asaspavoar.blogs.sapo.pt/ a quem desde já agradeço a distinção - e retribuo com um grande beijinho - e fico feliz por saber que "Faço o dia" de alguém, neste enorme Mundo, onde começo a dar os primeiros passos e que é a blogosfera...

Mas voltando ao prémio em questão...este consiste em...

"Dê este prémio a 10 pessoas cujos blogs lhe tragam alegria e inspiração e a façam sentir feliz na blogosfera. Avise-as postando um comentário nos seus respectivos blogs, para elas o poderem passar. Atenção poderás receber o prémio várias vezes."
Assim, os meus 10 blogs para quem vai o meu prémio são:

- http://claras-em-castelo.blogspot.com/, Marta não podias faltar, claro!
- http://o-cantinho-da-fatyly.blogspot.com/, Fatyly é tão retemperador passar pela tua "cubata"
- http://brincosdepalavra.blogspot.com/, Daniel as tuas palavras são a sobremesa da blogosfera
- http://cantodocolibri.blogspot.com/, htsousa o colibri tem uma melodia mais deliciosa no teu canto
- http://osmeusencantos.blogs.sapo.pt/, Cris a doçura das palavras está no teu espaço
- http://umsilenciodepaixao.blogspot.com/, Ivone, a arte e o bom gosto
- http://dragonflyflower.blog.com/, Veruska a alegria é a tua arma mais eficaz
- http://ardosiaazul.blogspot.com/, aqui escreve-se com sentimento
- http://naohamalquenaosecure.blogspot.com/, Luís a boa disposição e as curiosidades são uma constante
- http://naocompreendoasmulheres.blogspot.com/, humor e criatividade em doses q/b

Peço desculpa a outros onde encontro verdadeiras pérolas de escrita e de imagem, mas sintam-se abrangidos por este prémio todos aqueles por onde passo e me fazem sorrir

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carícia


Chego tímida de desejo
Feita queres turvos
Lábios perdidos em devaneios
De morangos rubros.
Olhar furtivo
De desejos mascarados
Lânguida, frágil
Em sentimentos de cristal
Cubro a inocência
Que se esconde
Nas margens caudalosas do rio.
Nos fios de cabelo,
Estradas que as unhas
Traçaram no teu corpo,
Começo a viagem de descoberta
Liberta de preconceitos
As mãos deram vida aos dedos
Que têm a forma dos teus anseios
Conhecem de cor cada lugar de ti
Param nas divisões secretas
Do prazer sublime
Descobrem nos recantos escondidos
O segredo que só eu sei!
E no êxtase do momento
A liberdade da entrega
Feita de dádiva e gemidos
Afagos que se intensificam
Quando se fundem, os corpos
Enchem os sentidos
Com a luz roubada à lua!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Divirtam-se


De há algum tempo a esta parte comecei a desenvolver uma certa alergia à maior parte das datas festivas. Umas perderam a magia que outrora tinham e outras, na verdade, nunca chegaram a ter.
O Carnaval é uma dessas épocas. Nunca me entusiasmei com esta alegria “por encomenda” que durante uma mão cheia de dias parece enlouquecer algumas pessoas.
Não posso dizer que não sinto uma certa admiração por todos aqueles que conseguem “travestir” estes dias com máscaras de alegria e, que nos excessos conseguem encontrar esses espírito de festa,
Eu dificilmente o consigo fazer, prefiro a alegria genuína daqueles momentos simples e, muitas vezes inesperados.
Claro que podem afirmar que uma coisa não é incompatível com a outra e, de facto assim é, mas a mim essas folias carnavalescas costumam significar pouco ou nada.
No entanto, como ele existe e nos oferece uma terça-feira gorda de feriado vou aproveitar estes dias para um passeio retemperador
Para todos um BOM CARNAVAL.