quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Um filme antigo


Voei num tempo em que o teu sorriso vaidoso dançava nos poros abertos do meu sentir. Memórias amareladas que recusei apagar e que em mim habitam, como partículas do meu ser… átomos que não se separam e que de negro se vestiram!
Como num filme antigo... revivido em que as legendas se ausentaram, personagens em silêncio movimentam-se ao ritmo de um enredo previamente delineado. Jorra poesia de um alma martirizada...escorrem rimas pelos dedos ansiosos.
Quis depositar uma papoila vermelha, mas nos filmes antigos o vermelho era proibido seria pela paixão que a cor fazia explodir!?! Importante era que tudo fosse igual ao que tinha sido.
Assim o mundo não se virava de pernas para o ar, assim o mundo podia rolar indiferente…sem vida.
..e de um sépia tingido de tempo em teias de aranha zangou-se com aquele sentimento que devia estar moribundo de esperança. Ralhou-lhe com palavras arcaicas que só os dicionários revestidos de poeiras insensíveis ainda arquivavam e não entendeu porque as suas palavras eram outras e falavam de uma ausência dorida.
Lembrou-se quando a mão desceu pelo colar colado à sua pele num toque que outro toque lembrava. As carícias eram sussurros que a sua voz trazia até si. Não queria que a saudade entrasse no seu peito. Admiti-la era reconhecer que o relógio da ansiedade tinha parado de bater...e isso ela não queria, precisava de se sentir viva nas memórias que transportava e, por isso abafava o esquecimento com as mantas de Inverno e galopava no seu dorso para que ele não vencesse.
Era um filme antigo com desbotadas cores de Outono, mas no silêncio daquele quarto permaneciam as mãos que teimavam em afagar as suas...e uma papoila vermelha venceu a resistência e teimou em florescer antes que o final se fizesse em ausência de cor!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Corpo de palavras


Deixo as palavras dançarem no meu peito, como se rodopiassem dormentes nas minhas mãos. Soltam-se sementes de girassóis que procriam nessa terra de ninguém e deitam-se comigo, prenhas de desejo. São palavras de vida, palavras cheias de trigo que se faz pão, palavras que amam as mãos que as possuem e fazem delas corpo amado.
Voam de finito em infinito, cobrem de brisa selvagem o papel em que te transformas e dizem de amor...as palavras, como se tão somente para isso tivessem sido inventadas naquele princípio do mundo em que tu e eu nos encontramos.
E não voam com o vento...as palavras, fazem-se raiz de terra presa em ti…abraço que trepa em caule de nós.
Dizem dos sonhos e de horas incertas em que se baralham para novas palavras criarem e fazem do mundo um lego por construir...nenhuma babel as pode derrubar quando de palavras em silêncio se tornam palavras em que te amo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Palavras em Desalinho



Afago-te os cabelos
Com palavras em desalinho.
Abraço a madrugada
Que se estende longa
pelos nossos dois corpos a amanhecer.
Solto o desejo rebelde
A bailar faminto nos traços
marcados pelos grossos lábios.
Adivinhas-me no despertar
As formas do sonho
Que inventamos os dois
E,
Percorres com os dedos da fantasia
Os trilhos húmidos da minha vontade.
Desenhas com a língua inquieta
Mapas de um tesouro
A despontar entre nós.

…Ouço os ecos desse sentir
Repetem-se em mim
E ofereço-me à tua paixão!



Depois da festa chegou a altura do balanço.
Confesso que ponderei acabar com estes “Desalinhos”, ou pelo menos fazer um interregno para repensar a sua existência…mas gosto de aqui estar, de vos receber neste espaço e de visitar os vossos, por isso optei por continuar…talvez com o tempo introduza algumas ligeiras mudanças neste formato, mas para já continuará desalinhado como sempre foi.
Obrigada pelos parabéns e por passarem por aqui.