segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

FESTAS FELIZES


Feliz Natal
Tocou-lhe levemente no peito e deixou a mão arrastar-se até um pouco abaixo do umbigo…parou pôs-se em bicos de pés e murmurou-lhe ao ouvido:
-Descobre-me, deixei vestígios que te vão ajudar…
Estremeceu com a sua voz rouca e convidativa e com o leve arrastar da língua pelo lóbulo da sua orelha.
Sentia que ela o provocava em períodos intercalados.
Naquele dia, quando a viu entrar como um clarão de fogo na porta do seu escritório sentiu-se arrebatar pelo vermelho-paixão que a envolvia.
Dormente…pela volúpia do seu sorriso maroto deixou-se conduzir pelo mundo de sensações inebriantes que se sucediam.
Como um presente que se adivinha, mas que se deseja ver, sentir, inalar…degustar foi soltando as fitas coloridas e o papel de embrulho que envolvia o envólucro que ela lhe apresentava!
Espera…surpresa…desejo! Momento ansiado…prazer vivido!
Deixando escorregar o tentador vestido natalício pela pele ardente sussurrou-lhe:
-Vim apenas desejar-te um Feliz Natal!


* Como vou estar ausente durante alguns dias…aproveito para desejar a todos um FELIZ NATAL e um óptimo ANO NOVO…acima de tudo que as expectativas de cada um não sejam defraudadas

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O mar é fêmea



Sabe-se que o mar é fêmea!
Alberga mistérios no seu ventre,
Solta desejos em ondas de prazer
Gritos libertinos dispersos em espuma.

Inquietude permanente nos abraços suados!
Perfeição de formas em alteração constante,
Revolta passiva em batalhas constantes
Ambiguidade no ser e no estar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Arte no teu corpo



Queria ter pincéis na ponta dos dedos
Barrar-te com as cores de Primavera
Sorver gulosa o suor da tua pele!

Queria aprisionar no coração da tela
O sorriso cansado do teu sexo
A bailar no meu olhar!

Queria ser tinta húmida
A escorrer dentro de ti,
Como as ondas da maré!

Queria tatuar nos teus sonhos
Longos arrepios de prazer…
Todos os ecos de momentos passados!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Hoje o dia não é meu


Hoje o dia não é meu
Fugiu, ao despertar
Para o espaço entreaberto
Dos teus dedos!

Quisera esquecer as rosas
Com que adornaste
Os fios do meu cabelo
Emaranhados nas tuas mãos!

Apagar o sabor das amoras...
Espesso e doce sumo rubro
Beijo-convite
Dos teus lábios rebeldes!

Hoje o dia não é meu
Mergulhou nas palavras
Perdidas nos teus olhos
Que repousam no verde-mar!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Areias errantes


Percorre-me os espaços desertos do corpo…pregos em pó desfeitos espetados na armadura ferrugenta das noites mal dormidas. Sonhos de infância, graúdas realidades nos berlindes esquecidos no bolor pardacento do ser errante. Ao longe o infinito feito de finitas alergias a sóis que nunca se põem e se alimentam de sombras que vestem a esperança moribunda.
Devora o deserto equívocos e lamentos … fartas armadilhas onde aprisiona poesias de oásis ainda por inventar.
Castelos de areia onde permanecem escondidas as letras felizes da palavra. Altivas …num jogo de esconde-esconde tornam-se a negação da sua essência, espelham desejos e oferecem amargura sedenta.
Lapsos do pensamento que se perdem na abertura de uma luz sem feixes onde o riso se esfuma como fumo em espiral escorregadia.
Embrulho-me em armas…que matam ilusões, que enterram alegrias dormentes… fingidas de respirares rarefeitos.
Apodrecem sementes de um não germinado amor!
Polvilhado grito num desespero de não-sentires e penso que há mil vidas atrás olhei para ti e pensei: visto-me com a areia que trazes nas tuas mãos…és o meu mar em cada noite que passas em mim!
Fez-se de areia...deserto de areia a engolir quartos minguante de tresmalhadas memórias!



Nota: Se puderem passem pelo blog do Nuno Sousa http://nunosousaphoto.blogspot.com/ e vejam o texto que escrevi e principalmente a magnífica foto que ele tirou.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Instinto da minha carne



Mordisco os lábios pintados
De vermelho sangue…
Cobre a palidez da minha face!
Escorre o rio de paixão
Até à fonte que sacia
A inocência perdida.
Arde o fogo entre o sentir
Entrelaçado no tronco nú
Adormecido ao meu lado!
Prolongo o beijo na memória
Quando de ti resta o cheiro
Do prazer saciado!
Adormeço aninhada
Nos braços do desejo
Instinto desperto na minha carne!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Melodiosos quereres...


Quero...
conjugar para ti o verbo querer
sentir que o posso fazer rimar com perder...perderes-te nas minhas mãos que entrelaçadas adormecem no teu colo!

Quero...
encher as palavras com as marcas de desejo espalhadas no esboço dos teus retratos... partículas perdidas dentro de nós, abraçadas às palavras da tua boca, com que nas noites de insónia estremeço!

Quero...
arrastar pela estrada de terra os riscos dos risos que me fazes soltar...calcorrear caminhos proibidos nos pés que o teu corpo me oferece, para soltar balões coloridos do brilho do teu olhar!

Quero...
a descoberta dos pontos cardeais na ponta da carícia dos teus dedos... navegar nesse mar…onde o destino se veste de enigmático desconhecido e onde as ondas são carícias melodiosas do teu querer!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sorriso de lua



Parecia uma aranha com patas de seda a atravessar o seu corpo. Sensações de cócegas vibravam na carne quente recém desperta.
Os fios de ouro que entravam pelos frisos da persiana mal fechada beijavam-lhe a pele vestida com o suor dos prazeres da madrugada.
Adivinhou os traços da sua presença, mas o olhar parou na sequência de cartazes de Toulouse-Lautrec que coloriam a parede daquele quarto tão estranhamente familiar. Sentia-se presa no enredo das saias folhadas daquelas bailarinas do Moulin Rouge e deixou-se invadir pelos amarelos-torrados e pelo vermelho-sangue que lhe tingia o olhar.
Na quietude da cama revolvida pela revolução dos corpos ansiosos e famintos sonhou-se naquela sala revestida a fumo, onde se respirava desejo, aquecido pela transpiração dos corpos em movimento que alimentavam a fome de olhares dormentes e sequiosos.
Estremeceu, deitada, ao som dos ritmos quentes que lhe atiçavam o corpo. Ondas de paixão cobriam-lhe o corpo desnudo, sentiu-o espantado na carícia ardente que o transportou até si. A dança que partilhavam tinha passos diferentes mas conduzia-os sempre a um intenso orgasmo.
Momentos plenos em que fugia das repressões que se impôs. Diluía em si todos os mistérios que não compreendia e abandonava-os momentaneamente.
Sentia-se culpada por estar ali, aliás, tinha o péssimo hábito de se sentir culpada sempre que se sentia num limite de felicidade acima do normal.
Por mais que se esforçasse já não se conseguia lembrar da última vez que riu ruidosamente, por se sentir apenas…feliz!
Também não era infeliz…indiferente, talvez.
Receava saborear o patamar mais elevado da felicidade, escondia-se das ilusões que uma vez por outra a tentavam abraçar.
De mansinho, como uma onda suave do mediterrâneo, ele entrou nela para ficar. Segredou-lhe palavras que ela temia ouvir e que a fizeram estremecer, lambeu-lhe as lágrimas secas e deu-lhe brilho ao olhar, acariciou-lhe as emoções tornando-as tão fortes que ela não conseguiu fugir-lhes.
Sentia-se bem, quase feliz com aquele sorriso de lua que ele lhe oferecia.
Ainda não tinha vencido o medo, mas sabia que com as suas mãos de veludo conseguiria dar um passo de cada vez!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pensamento Vadio



Ensina-me a voar
Por entre nuvens de algodão

Ensina-me a planar
Como uma ave sem destino

Abraça o meu corpo todas as noites
Desperta ao meu lado em cada madrugada

Faz do teu dia parte do meu.
Momentos nossos em que ninguém penetra.
Vadio o meu pensamento corre para ti
Abraças o beijo que te envio em forma de verso
E num sopro de luz devolves-me a carícia...
Adivinho o sorriso esculpido na tua face
...Sabes o prazer que em mim provocas
Mesmo quando o lençol permanece
Imaculado numa das bermas.
É o teu espaço…
Espera que lhe dês a forma
Que só o teu corpo sabe!
Que te aconchegues entre os meus braços
E cantes ao meu ouvido
Palavras de mel encantadas.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O grito do meu olhar



-Consegues ouvir o grito do meu olhar?
A dor desenhou os padrões de que se revestiam aqueles olhos que traziam todos os mistérios dos oceanos, nos cristais salgados que deles se soltavam!
Com as palavras especiais que só alguém que a sentia poderia algum dia dizer, ele murmurou suavemente, como pedindo desculpas ao silêncio por o enfrentar: "adoras perder o olhar no vazio… como se te quisesses fundir nele"!

Era a voz do amor que lhe dizia que nenhuma recusa fazia sentido, que os medos nada mais eram do que fantasmas que se esfumavam no ar com uma gargalhada de partilha … assim, o vazio nunca mais seria uma viagem sem volta a mundos esquecidos!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Labirinto sem rosto



Convido-te num sussurro silencioso
Para seres grito que se solta em mim.
Percorro-te lenta e tentadora
Em ardente convite provocante!
Labirinto sem rosto em que me perco
Espesso prazer que se desenha!
Penetro nas teias sedosas do teu corpo
Linguagem solta em deleito consumado.
No abandono da tua macia nudez
Beijos ébrios espalhados no desmanchado leito.
Invento a cor brilhante dos dias
Como se a tempestade despertasse em nós!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sons banais




Olhava para o abismo que se desenhava à sua frente, como se ele exercesse uma forte atracção sobre ela. A paisagem era árida, daquele pó velho onde nem as ervas daninhas conseguem proliferar, mas ela sentia-se atraída pela imensidão virgem daquele espaço, pelos gumes afiados das rochas que se erguiam até si.
Continha a respiração para que nada interferisse com aquele momento.
Dentro de si as emoções eram tumultuosas, sobrepunham-se umas às outras à espera de vez para explodirem, mas ela ignorava-as e continuava a absorver aquele momento, como se nada mais existisse.
Sabia que do outro lado os picos eram bem mais afiados, que havia decisões para tomar, medos para ultrapassar, vidas por trilhar…
Nada disso importava, apenas aquela imensidão que a abraçava e a fazia sucumbir.
O voo da águia cruzou o seu olhar e obrigou-a a despertar da sonolência mórbida em que tinha mergulhado.
Virou costas ao frio cujas garras se tinham afiado na pele quase violeta e fugiu daquele instante de descoberta.
Voltou costas ao infinito em que, por momentos mágicos, tinha mergulhado e regressou aos sons banais do quotidiano finito.
As palavras surgiam vindas do nada e, ao abrir a porta de casa, sabia que não lhe seria permitido adiar a conversa que tantas vezes ensaiou.
A vida recusava-se a esperar na soleira da sua porta.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pedaços de Tempo



Porque as fotos são pedaços de tempo
dentro de nós…
Partículas aprisionadas
a um momento de que nos despedimos.
Vidas em traços desnivelados
que oferecemos a um olhar de saudade!

Imagens de instantes em que o sorriso
nos banha o rosto…
iluminado por uma luz distante
que nos invade o espaço...
...e faz acreditar que há marcas
de eternidade em cada um de nós!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Saborear



Descascar a roupa que te protege
Docemente…
Molhar os dedos e saborear-te
Lentamente…
Sugar o sumo que escorre
Avidamente…
Adormecer no teu jardim
Apaixonadamente…

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Noites de fogo



O tempo escorre
Como chama líquida
Pela pele dos dedos ansiosos.
Ardem no teu corpo momentos de luz
Lembram dias inacabados…
…despertam noites de fogo!
Invento o amor no teu olhar
Encontro o desejo no teu toque
Derreto-me ao som da tua voz!
E faço-me nada nas mãos
Que me dão instantes de tudo
…sonhos à solta no meu peito.
Atravesso contigo o espaço
Como se feita da espuma que o mar
solta nos seus infindáveis orgasmos!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fazer da ausência presença



Tinha a mão encostada ao seu peito, como quem se certifica que o palpitar do coração ainda era real.
Sentada na mesma rocha, onde ambos tinham partilhado o salgado aroma das ondas, olhava o firmamento como se a realidade pudesse ser modificada pelo simples facto de ela querer que assim fosse.

Ele tinha surgido na sua vida vindo de um nada tão longínquo que ela não imaginava sequer que pudesse existir
Primeiro sorriu-lhe, depois conquistou-a, a seguir amou-a com uma intensidade que ela descobriu extasiada, quando já estava apaixonada por ele.
Sem saber como nem quando sentiu que ele passara a fazer parte dela e ela dele…sentiam-se, adivinhavam-se sem necessidade de palavras…mas a verdade é que ambos gostavam das palavras e brincavam com elas e com elas vestiam os sentimentos que a medo iam descobrindo!
Estranhas coincidências tornavam-nos um só, mesmo quando na diferença viam que podiam ser iguais no amor que partilhavam.
A medo ela embarcou na rota da loucura que o corpo dele traçava, aprendeu novos caminhos que a conduziam até à força do seu amor…e mais do que o medo assustava-a a sua força que se alimentava dos dois… como se nada mais existisse para além daqueles momentos.
Não era…nunca foi fácil dar corpo àquele amor…eram imensos os sinais proibidos que apareciam no percurso que queriam trilhar!
Como se acreditassem que a lua nascia só para eles abraçavam-se no vazio que se desenhava nas noites, cobriam a saudade com beijos de paixão. Ele cantava-lhe a canção que lhe tinha oferecido, ela sussurrava-lhe ao ouvido palavras do poema que lhe tinha escrito!
Aprenderam a amar-se antes de se conhecerem e tudo era uma (re)descoberta a dois corpos.
Os sorrisos venceram as lágrimas, o seu olhar apaixonado conquistou-a, na sua mão traçou um novo destino e percorreram um longo caminho que os deixou unidos na certeza de que nenhum outro significado poderiam ter as palavras: “Sou tua”, “Sou Teu”!

…um dia, tanto tempo depois (!) quando acreditaram que afinal não tinha sido o acaso que os juntou, quando viviam finalmente à distância de um respirar ela sentou-se na terra molhada depois de se terem amado com o mesmo desejo de sempre e disse:
- Sinto que o ar me foge, como se tivesse inveja deste sentimento que nos incendeia!
Assustou-se ele com a palidez de cera que o seu rosto transmitia, pegou-a ao colo e no hospital soube que nem a força do seu amor seria suficiente para que o coração dela continuasse a bater.

Dor, raiva, amargura, revolta … da loucura do amor à loucura da morte!
Beijou-a em desespero, apertou-a contra si, como se isso a pudesse devolver à vida que ele sempre amou.
Lembrava-se de sempre lhe ter dito que ela era “o seu sopro de vida…a brisa que o acompanhava de noite e de dia…”
Agora queria ser ele o sopro da vida que lhe fugia, mas não sabia como o fazer!
…nos beijos que lhe depositava na boca deixava pedaços de si…
…nas palavras que lhe colava aos ouvidos lembrava-lhe as promessas de que seria para sempre…
…mas apenas o silêncio lhe respondia, um silêncio que o feria e que o afastava cada vez mais dela!
Sabia que era loucura, mas tudo lhe dizia que essa era a única forma de permanecerem unidos para sempre.
Só havia uma pessoa que o podia ajudar e não queria perder nem mais um minuto, tudo tinha que ser feito antes que tarde se tornasse…havia obstáculos a vencer, medidas a tomar, mas sabia que voltar atrás era impossível!

Dias depois ela acordou!
Procurou-o com o olhar, sentia-o mas não o via!
Quebrou-lhe o soluço a voz … as lágrimas caiam-lhe pelo rosto pálido de quem venceu uma batalha impossível contra a morte!
-Como o deixaram fazer isto?
Ninguém soube como lhe responder, tudo tinha sido feito enquanto ela dormia o longo sono da dúvida!
De nada adiantou que negassem, o que para ela era evidente!
…sempre tinha sido assim desde que se conheceram. Adivinhavam-se em todas as situações, por vezes as palavras atropelavam-se no caminho por demasiado parecidas ao que queriam transmitir!
Se ela o sentia e ele não estava ali, isso só poderia significar que ele cumpriu o que sempre tinha prometido: ficariam unidos para sempre…sempre disse que não estava disposto a morrer de amor, mas que se fosse preciso morreria por ela!
-“Estou em ti como sempre estive, nada nem ninguém nos poderá separar”
Pegou nessas palavras escritas com a letra do seu amor nas costas de um papel que ela lhe tinha oferecido com uma palavra apenas e levou-a até ao coração que agora era dos dois!
As lágrimas escorregaram … tinha tantas saudades da sua presença, mas verdade é que também tinham aprendido a fazer da ausência presença … mas não conseguia imaginar como viver duas vidas numa só!
Com a mão no peito, à beira do mar que conjugaram com o verbo amar, perguntava como merecer o seu amor?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O amanhecer dos corpos



Acordou com o primeiro raio de sol que beijava a parede do quarto.
Sentiu novamente o prazer que a adormeceu quando a noite já se tinha despedido.
...Aconchegou-se àquele braço forte que a prendia à realidade.
...perdeu-se no caminho de descobertas que a tinha levado até ali...até ele!
...e deixou os dedos escreverem palavras de desejo nas linhas marcadas daquele corpo másculo.
Viu que ele despertava através do tremor insuspeito da sua pele, no entreabrir espontâneo dos lábios adormecidos, no abraço que a aconchegou.

Sorriu e disse-lhe:
-Que respondes quando a madrugada te acorda com um sopro de vida?
-Roubo-lhe a sua essência e ofereço-te o amanhecer dos corpos!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Traços de vida



Olho para a palavra e sinto toda a força que ela me consegue transmitir...não sei se é especialmente bela...confesso que enquanto palavra… só por si, não é das que mais me atrai. Mas, as palavras têm destas coisas podem não ser belas, podem não se engalanar como se fossem a rainha da festa e, no entanto, na sua simplicidade, podem dizer tanto e significar ainda mais!

Olhei para ela mais uma vez...estava escrita na areia da praia onde tinha ido depositar os meus pensamentos: duas vogais e duas consoantes...simples até na composição!

Uma breve aragem revolveu a areia e deixou-a órfã de uma vogal...parecia doente…sem significado aparente. Baixei-me e desenhei com o dedo indicador o "I" que tinha desaparecido...não custou nada e ela voltou a ter o sentido que sempre teve, aquele que me fez olhar para ela durante tão longos minutos.
Cruzei os pés na areia e sentei-me nas nuvens longínquas que se desenhavam no céu banhado daquele ouro de fim de tarde que só alguns conseguem apreciar...

Dois miúdos jogavam à bola bem perto de mim...não os tinha visto, absorta que estava no meu olhar longínquo! Quando os vi perdi-me no seu riso traquina e nas movimentações dos seus pés descalços que apagavam a segunda consoante da palavra. Sentindo o meu olhar espantado a pousar sobre eles fugiram entre fortes gargalhadas… voltei a insistir e desenhando um “D” a palavra voltou a ter a sua terceira letra!

Gaivotas rasgavam o céu num voo cansado, enchiam o ar de um piar ensurdecedor…cansada uma poisou na areia as patas em formas de “V” que se multiplicavam e vida ganhou mais ritmo…

Arrastavam-se as ondas na praia, cristais de espuma feitos do sal de lágrimas ininterruptas tentavam alcançar o fim da palavra…banhavam levemente o “A”, que vincado na areia teimava em permanecer… assim é!
Entre ventos, gestos, momentos de desânimo e marés vai vencendo a luta pela sobrevivência… a VIDA!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um país…um regime…várias contradições



Há uma dúzia de anos visitei Cuba pela primeira vez. Provavelmente devido ao fascínio que este país exercia sobre mim confesso que fiquei encantada: um mar fabuloso, música que parecia nascer em todos os cantos, pessoas que transbordavam simpatia apesar de todas as dificuldades que saltavam aos olhos, mesmo dos mais distraídos.
Saí de lá com a certeza de que um dia voltaria.
Este ano resolvi regressar e apostar numa viagem diferente…entrar mais a fundo na vivência das pessoas, procurar o outro lado das coisas. E descobri um país feito de dualidade, de paradoxos, de contra-sensos e contrastes…um país à deriva a lutar entre o sonho e a realidade.
Acho que não há melhor imagem de Cuba do que dizer que se trata de um Museu Vivo. Em termos arquitectónicos, de património, do parque automóvel…e mesmo de ideias!

A história de Cuba parou basicamente entre 1958 e 1959 altura em que Che Guevara iniciou uma marcha para Havana, capital de Cuba. Em 1959, Fidel Castro liderou a Revolução Cubana contra o ditador Fulgêncio Batista. Fidel Castro não era comunista, aliás, os comunistas apoiavam Batista e não confiavam em Fidel, no entanto, foi ele que mobilizou a juventude cubana e conseguiu eliminar o analfabetismo em apenas um ano, realizou a reforma agrária, desapropriando propriedades dos americanos, o que terá levado os EUA a considerarem o líder cubano um inimigo e tentarem derrubá-lo, treinando ex-militares de Batista para invadir Cuba, para além de deixarem de adquirira açúcar cubano, o que obrigou Fidel a aproximar-se da União Soviética e dois anos mais tarde instaurar um regime ditatorial de orientação marxista e partido único.

Nestes quase 50 anos de regime Fidel conseguiu algumas proezas que considero admiráveis num país com uma dimensão quase similar à de Portugal, sem grandes riquezas naturais (à excepção de um mar e de belezas naturais que cativam qualquer um) e com um bloqueio internacional que, pelo menos no início, funcionou eficazmente. Claro que durante várias décadas contou com o apoio do Bloco de Leste que, de alguma forma colmatava dificuldades existentes e tornava mais fácil alimentar com balões de oxigénio uma situação que, de outra forma, ter-se-ia tornado insustentável.
Com a queda do muro de Berlim e a modificação da situação internacional, Cuba foi um dos países que sofreu na pele com essa mudança, ou seja a sua população sentiu cair em flecha o seu nível de vida.

Das proezas conseguidas é de realçar ma quase nula taxa de analfabetismo, um sistema de saúde capaz de causar inveja à maior parte dos países ditos desenvolvidos, um sistema de protecção civil muito bem montado, como pude constatar com a passagem do furacão “Gustave” e um apoio à população, principalmente em termos de concessão de casas para habitação. Dito assim pode parecer pouco, mas quando olhamos para a maioria dos países da América Latina constatamos que não é assim tão pouco o que o Governo oferece. No entanto, se formos mais ao fundo da situação descobrimos o outro lado da moeda…o ensino é bom (sempre gratuito, sendo que quando mudam de estatuto de estudante para trabalhador uma parte do salário auferido é-lhes retirada para subsidiar a formação dos mais novos), de tal forma que quase todos os cubanos entre os 40 e os 20 e poucos anos possuem um curso superior (e não falo apenas de terem um diploma, mas de possuírem conhecimentos aprofundados), no entanto poucos são os que exercem a sua profissão, optando por trabalharem em profissões ligadas ao turismo, pois a possibilidade de auferirem gorjetas superiores ao ordenado é um factor determinante. Significa isto que as mais-valias criadas não são devidamente aproveitadas, razão pelo qual um dos guias que tive era arquitecto, o empregado da mesa do hotel era professor de química e assim por aí adiante.
Quanto ao sistema de saúde…creio que o valor da medicina cubana é reconhecido um pouco por todo o mundo, aliás por algum motivo Hugo Chavez celebrou um protocolo com Cuba em que manda petróleo em troca de médicos cubanos (um acordo benéfico para os dois). A população tem acesso a um sistema gratuito de saúde, mas faltam medicamentos que complementem essa oferta. Claro que o bicho papão do bloqueio americano surge logo em lugar de destaque, mas a verdade é que hoje em dia o bloqueio é quase inexistente. Quer o Canadá quer a França, entre outros países, têm furado esse bloqueio em vários domínios, se não o fazem em termos de fornecimento de medicamentos é porque esse é um dos argumentos utilizados na luta anti-americana.
Pelo que pude ver e ouvir (através de inúmeras conversas que tive) há pobreza em Cuba, mas não há fome, todos têm acesso ao mínimo (embora se esse mínimo for analisado pelos parâmetros ocidentais seja muito pouco)…contudo, a par das vantagens que isso pode trazer há um conjunto de desvantagens que acabam por impedir o desenvolvimento económico do país.
O ordenado base para o trabalhador comum é muito baixo e serve, em regra, apenas para a aquisição do essencial à sobrevivência. Os ordenados dos trabalhadores rurais e daqueles que não se encontram ligados à indústria do turismo são ligeiramente mais elevados face aos ordenados dos trabalhadores ligados ao turismo, isso porque é ideia feita que estes conseguem, através das gorjetas, um verdadeiro complemento ao seu ordenado… o mesmo é dizer que quase toda a gente se faz à gorjeta neste país e que a qualidade do serviço está dependente de desembolsarmos ou não o respectivo peso.
Por falar em pesos essa é outra incongruência deste país… Cuba tem duas moedas uma para os turistas, o peso convertido (mais conhecido por CUC) e o peso para os cubanos. Pelo que pude averiguar a média dos ordenados anda entre os 17 pesos convertidos (o que não dará mais de 15 euros) e os 25 pesos…para o comum dos trabalhadores. Tendo em conta que a maioria dos casais cubanos vive em casa dos pais, isso significa que são 3 ou 4 ordenados que entram em casa dentro dos valores referidos, o que diga-se em abano da verdade não dá para muito, pois uma t-shirt banal custará cerca de 11 euros e uns sapatos poderão custar mais de 30 pesos convertidos, o que faz com que a solução seja recorrer a artigos em 2ª ou 3ª mão.
Desta forma o sistema proporciona o básico, mas paralelamente a isso promove a pequena corrupção e o contrabando de produtos típicos como o rum e o “puros” cubanos e não incentiva à produtividade…
Como dizia uma cubana que trabalhava no hotel “o regime deu muita coisa boa a Cuba, mas tem de evoluir…50 anos sem mudanças estagnou o país, impediu o crescimento e o aumento da produtividade, todos fazem o mínimo, porque sabem que recebem o mesmo independentemente do esforço. A par disso é revoltante saber que o regime luta contra a fuga de cubanos para Miami, mas recebe de braços abertos as suas «remessas» de divisas”.
Para alguns este comodismo já faz parte da forma de vida, noutros sente-se uma revolta surda, mas quando os questionamos sobre o futuro…tanto para uns como para outros a apatia é geral e o encolher dos ombros o gesto mais comum.
Ao contrário do que é regra, este ano, pela primeira vez Fidel não apareceu nem discursou no dia do seu aniversário…provavelmente a doença já começa a vencer o corpo deste guerrelheiro. Para os cubanos, no entanto, ele continua a ser um herói, alguém que deu corpo a um sonho..é interessante ver como em Cuba se cultiva a imagem de ídolos como Ché Guevara, de Jose Marti e de outros guerrelheiros, mas a imagem de Fidel é preservada, de tal forma que quase me apetece fazer uma comparação com a igreja católica que representa os seus santos, mas nunca tem uma representação física de Deus.
E a dualidade continua numa série de pequenas coisas que marcam o dia-a-dia deste país. Por exemplo há autocarros para turistas e outros para cubanos…a liberdade de expressão é uma utopia. Falar com um cubano não é tarefa fácil, num bar em Varadero alguns diziam que era necessária uma autorização especial para falarem com turistas, noutras situações sempre que tentava abordar a situação do país falavam muito a medo antes de ganharem confiança e sempre com os olhos a investigarem se alguém se aproximava. Uma das bandeiras de Raul Castro foi o facto de ter permitido o uso de telemóveis por cubanos o que é importante não fosse o preço exorbitante das telecomunicações em Cuba, o que torna quase impraticável o seu uso mesmo para turistas, quanto mais para os naturais deste país…a Internet é extremamente lenta e a preços quase proibitivos. Quanto à televisão por satélite (não o posso afirmar com precisão) mas pareceu-me ser de uso exclusivo para turistas.

A VISITAR:
Continuo a achar que estas incongruências fazem de Cuba um verdadeira “case study” em termos de estudo de política internacional… mas à parte disso o país possui um conjunto de factores que justificam uma visita atenta. Havana, cuja parte antiga foi classificada pela UNESCO como património da humanidade encanta pela variedade de estilos arquitectónicos e decoração, onde se convivem em todo seu esplendor o barroco e o neoclássico, o renascimento e o "art nouveau" em palacetes, casarões coloniais, conventos e igrejas. Durante anos, a falta de poder económico impediu a recuperação destes edifícios, mas actualmente alguns deles já começam a ser recuperados fazendo com que a cidade deixe de ter um aspecto de cidade degradada. Visitas obrigatórias nesta cidade é o Malecón, Paseo de Martí, Parque Central, Plaza de Armas, Castillo de la Real Fuerza, Plaza de la Catedral, Plaza Vieja, Estação Central, A Catedral, o Capitólio e claro é de passaegm obrigatória El Floridita, La Bodeguita del Médio (Locais eleição de Hemingway, famosos pelos seus daiquirise mojitos e ainda a gelataria Coppelia.
Os cayos, famosos pelas suas praias de areias brancas e águas calientes são destinos especiais, bem como Varadero, Trinidad (cidade que também é património da humanidade) que parece ter parado em pleno século XVII), Cienfuegos, Guama, Cardénas (onde pela primeira vez foi hasteada a bandeira cubana) e Santiago de Cuba (segundo dizem porque nunca visitei este cidade pela longa distância que fica de Varadero, deslocação só mesmo de avião e confesso que a minha experiência com os aviões cubanos deixou algo a desejar).

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Férias...



Durante os próximos 15 dias vou estar ausente deste espaço, a gozar umas mais do que merecidas férias! Para quem já aproveitou as suas um bom regresso para quem as vai gozar que se divirta e aproveite ao máximo esse tempo de lazer!
Pela minha parte a chegada das férias lembrou-me que vou aproveitar estes “Desalinhos” para falar de uma outra coisa que me dá imenso prazer, para além da escrita e da fotografia… viagens!
Para começar deixo-vos aqui um post sobre um sítio especial… o Porto!

Tem origem num povoado pré-romano. Na época romana designava-se Portus Cale, sendo a origem do nome de Portugal. No ano de 868, Vímara Peres, fundador da terra portucalense, teve uma importante contribuição na conquista do território aos Mouros, restaurando assim a cidade de Portucale. Desde então marcou sempre presença nos grandes momentos da história de Portugal.

Como pontos turísticos, destacam-se a Torre dos Clérigos, a Igreja de S. Francisco, o Palácio de Cristal e os seus jardins, vários museus com destaque para a Fundação de Serralves, Museu Soares dos Reis, o Museu do Vinho do Porto, Museu da Indústria, Museu de História Natural, Museu do Papel Moeda, Museu de Arte Sacra, Museu da Misericórdia, Museu Nacional da Imprensa, o Museu de Transportes e Comunicações, Centro Português de Fotografia, Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, Museu Militar do Porto, entre outras ofertas.
No âmbito dos espectáculos há verdadeiras referências na Invicta como a Casa da Música, O Teatro Rivoli, o Teatro Nacional São João, o Teatro Sá da Bandeira, o Coliseu do Porto e o Cine-Teatro Batalha, recentemente recuperado!

E se o Porto é uma boa aposta por todos estes motivos, a gastronomia só fará aumentar a vontade de passar e passear pela Invicta. Restaurantes não faltam e em muitos a qualidade é uma certeza. Claro que em termos de pratos típicos as Tripas à Moda do Porto, o Bacalhau à Gomes de Sá e as famosas Francesinhas são petiscos a provar… mas, a par disso, convém não esquecer que o mar está ali mesmo ao lado e que o peixe é uma delícia gastronómica. Dos vinhos que o Norte oferece a diversidade é variada com o Douro a destacar-se pela qualidade, nomeadamente do tão conhecido “Vinho do Porto”.
De restaurantes não faltam ofertas para todos os gostos…a título de exemplo deixo meia dúzia de exemplos que podem fazer a delícia dos apreciadores de boa comida e que permitem conhecer também um pouco dos arredores da Invicta.
A Cozinha do Manel (Porto), Barão de Fladgate (Caves Taylor's em Gaia), Portucale (caro, mas com uma qualidade acima da média), Tromba Rija e a Presuntaria Transmontana (ambos no cais de Gaia), A Cozinha do Português (Gaia), Mar à Vista (Gaia), D. Tonho (Ribeira do Porto), Bull & Bear (Porto), Horta dos Reis (Gaia com o Douro como pano de fundo), Cafeína, Degusto (conceito muito interessante principalmente para os que gostam de aliar a comida ao vinho), Fernando (Matosinhos), Casa Serrão (Matosinhos), Mariazinha (Matosinhos), Capa Negra e Galiza (cervejarias no Porto), Brasileirão (comida brasileira em Leça), Mineirão (comida brasileira no Cais de Gaia), All-Arrabbiata (comida italiana em Leça), Pizzaria Trattoria Romana (comida italiana na Circunvalação), Varanda da Barra (comida italiana no Porto) e Máscara (fondue)…..acho melhor parar por aqui, até porque muito do que é bom que se come no Porto é em tasquinhas e em adegas, que vale a pena conhecer!
Depois de comer não faltam espaços, onde a diversão é garantida.

Para além de tudo isto não nos podemos esquecer que a separá-la de Gaia temos o rio Douro e todas as pontes que unem as duas cidades. O Centro Histórico é Património da Humanidade, classificado pela UNESCO. A zona da Ribeira com os seus restaurantes e a rusticidade da sua paisagem permite ainda o embarque em barcos que dão uma outra panorâmica da cidade. A Foz é outra zona altamente turística, por muitos considerada a mais bela zona da cidade, onde se pode desfrutar da beleza do Oceano Atlântico conjugada com um belíssimo passeio marítimo.



Rosto com história

Cidade feita de dor e ilusão
Revestida de mágoa e cansaço
Palco de conquistas várias
Amada, esquecida, relembrada!
No seu ventre a glória
No seu rosto a história!
Mil vezes cantada
Em vozes de saudade.
Pregões esquecidos no tempo
Renascidos na raiz da memória
Vozes de mulher traída,
Emoções de amante desperta…
Pedras com vida que se erguem
Nas asas de uma gaivota a esvoaçar!
Rio de lágrimas salgadas derramadas
Num néctar embriagante
Que desagua num mar de sensações!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Passos de solidão


Falaram-me de solidão na quietude dos dias cansados...enruguei o canto dos olhos, como que procurando na minha mente o compartimento onde tinha guardado o significado de tal palavra!
Há muito tempo atrás, num tempo feito de esperanças sorridentes, de conversas onde as palavras fluíam como raios de sol desenhados nos corpos ardentes, a recusa da solidão era uma constante.
Num burburinho de emoções que se sucediam entre o dia e a noite… o medo de estar só era permanentemente abafado!
Mudou o tempo e com ele os quereres e os seres...dos Outros ficaram dois ou três, dos Outros fiquei eu...e sem medo encontrei-me num espaço que desconhecia existir em mim...sítio de silêncios e monólogos...de nadas que não assustam porque se preenchem com pedaços de vida feita!
Fez-se a solidão de momentos únicos, de palavras caladas, de desejos sem corpo...uma solidão que não fere porque desejada... milimetricamente escolhida para alimento desse dia!
Hoje foi a solidão que vestiu o meu corpo com os trajes que escolheu...amanhã talvez me pregue uma partida e arrombe a porta de entrada...sem ser convidada!
Porque gémeas na aparência são tão diferentes na essência.
E, se para uma os passos deslizam na suave certeza de ser desejada, para a outra pesam os passos...da solidão!
Nota: se puderem passem pelo blog da Vi http://novitazinha.blogspot.com/ e vejam o belo trabalho que ela fez com um texto meu (obrigada amiga)!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Em busca de não-sentimentos


Sentei-me à espera que Alice regressasse…
Mais uma vez tinha partido para o seu mundo. O olhar ausente durante a manhã indicava mudança. O café frio, na chávena perdida entre os dedos trémulos, deixava adivinhar mais uma ausência. Afastou-se, como sempre, num silêncio cúmplice dos seus próprios desejos, em busca de não-sentimentos que a deixassem transparente de emoções.
Numa encruzilhada de caminhos, onde os espelhos confundem imagens dos dois mundos entrega-se a uma dormente letargia, onde sonhos e palavras mudas, se entrelaçam.
Não mais o sorriso constante oferecido aos outros, apenas um corpo a divagar. Há momentos de dor que a realidade não consegue ultrapassar, espaços-prisão que urge quebrar numa viagem ao País dos Sonhos!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Vermelho chamado desejo


Cobre a minha pálida nudez
Com o vermelho do teu desejo.
Deita-te esquecido do mundo
Em mim o teu sabor a sal.
Murmura os versos proibidos
Da canção que tanto me atrai.
Ergue os braços entrelaçados
Na dança que os corpos encetam!
Grita às pétalas mordidas
A dor da separação…
Luz vencida na brilhante noite
Em que teus passos chegam!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O tic-tac da tua pele



Hoje queria rimar dia com noite…deixar os dedos escorregarem como ponteiros de relógio a marcarem o tic-tac na tua pele ardente.
Hoje queria despertar nos teus braços de areia … deixar os raios de sol vestirem a minha nudez nocturna.
Hoje queria esquecer-me dos traços negros do Outono…oferecer aos meus olhos o brilho do por-do-sol.
Hoje queria ter a força dos oceanos que me ofereces com o bater do teu coração…

…hoje tenho a tua mão entrelaçada na minha…
…a tua voz em forma de carícia a dizer que o amanhã não existe se nos esquecermos de viver o presente!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Com duas mãos…se faz um sonho!



Mãos pequenas e douradas
Abraçam a terra quente
Que a água banha!
Brincam com a transparência
Dos sonhos que o rio adivinha.
Barcos cheios de ilusões
Partem com a onda fugidia
…Deixando na berma o olhar desolado
A palavra perdida no vento
De quem almeja o que não sabe!

Menino feito homem
…Conforto na voz, de quem
Secou lágrimas salgadas,
Antes de rolarem na face vincada
…De quem envelheceu na infância…
Olhar sedento, crispado,
Solta do vazio dos seus dedos
Pérolas gastas, mas brilhantes
Que moldam a esperança
Com as cores da Primavera!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nuvens de liberdade



Nas sombras da noite que se desenha
Contam-se histórias feitas
De fragmentos de memória
Erguida em momentos sem importância!

Antiga como o tempo que não lembro
Passa veloz nas horas doces
Arrasta-se lenta e dolorosa
Nas feridas por cicatrizar!

As letras invadem o ser
As palavras preenchem o nada
As imagens acordam o sonho

Fecho os olhos para ver as silhuetas
Em busca dos dias que saltei
…perdi-lhes o rasto…
…ficaram sem rosto…

E o vazio conquista
Este espaço de ninguém
Deita por terra quimeras e desejos
Até que a revolta se solta!

E a história feita
De vento de liberdade
Embala as nuvens deste céu
Neste fim que não tracei!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pinta-a com as tuas cores!



Respondo-te que os dias não são todos iguais. Hoje o espelho devolveu-me uma desconhecida que me roubou os traços do rosto, ligeiramente vincados, mais opacos, mas praticamente iguais…interroguei-a surpreendida e um esboço de resposta garantiu que nem sempre a cor do riso preenche os meus instantes, por vezes apetece apagar lembranças da memória, torná-la um espaço em branco e assim a deixar…sem receio do vazio.

Ofereço-te uma flor em troca do teu sorriso…
Pinta-a com as tuas cores!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Meu Lugar


- Queres vir comigo até onde a luz se transforma em água?
- Onde é que isso fica? Como chegamos lá?
- Isso é segredo. Posso apenas dizer-te que aí a dimensão das coisas é diferente. Tudo ganha proporções que nem sequer consegues imaginar…
- Estás a dizer que me vais levar a um lugar mágico?
-Se assim lhe quiseres chamar, para mim é apenas o MEU lugar…
Curiosidade, aventura, descoberta… nem sei, sei apenas que o segui. A sua voz era firme e levava-me até mundos distantes, como se me conhecesse de sempre. Não aquele conhecer de quem te vê todos os dias e te cumprimenta com um simples “Bom Dia!”… este era um conhecer diferente, uma chave para abrir os teus sentimentos, aqueles que não contas a ninguém (por vezes nem a ti própria). Por isso o medo apagou-se naquele olhar sereno que me lembrava o mar da minha infância, aquele que recordo como um aroma que me invade as madrugadas. Era um mar que conquistava a cidade e que quando a noite nos adormecia calmamente nos adornava com um cheiro que ainda faz parte de mim. E os meus sonhos voavam até essa ilha e sentia o embalar das ondas no meu corpo de criança.
Como seria possível alguém conhecer esse MEU lugar e chamar-lhe seu?
De quem seria essa voz que acordou o sono em que me encontrava?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Momentos secretos



Deito-me faminta na manta
Que o teu corpo me estende.
Minha cabeça no teu braço
Abraço de saudade!
Espero húmida a carícia
Que adivinho nos teus dedos.
Inundas-me de desejo
No olhar que me percorre.
Turbulência no silêncio
Que o arfar da respiração corta!
Maré cheia de suores loucos
Força do querer, na doçura saciada!
Dou-te o mar que alaga
Os lábios com beijos mordidos!
Ofereço-te o meu canto secreto
Os momentos que são só teus!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Rio de Prazer




Os teus dedos passam suaves
Pela margem do meu corpo
Tatuam músicas de um ritmo
Adormecido no baú do esquecimento
Apagaram o ponteiro do tempo
Que veloz e tirano
Nos escraviza…
…e desperta a pele ardente
Numa louca dança de sedução
Encontram dentro de mim
Um rio de prazer
Que desagua em ti!

Solta-se um aroma a terra molhada…
Gotículas de prazer desperto
no orvalho da tua pele!
E adormeço nos teus braços
com o doce aroma do perfume…
…das pétalas de uma flor desconhecida!








quarta-feira, 25 de junho de 2008

Inquietudes



Dedilhava os dedos esguios, onde o vermelho La boheme se destacava, ao ritmo da música que dava voz à noite. Era quase um sussurro… um apelo distante para que o seu corpo vibrasse. Estava sozinha, perdida num mar de desejos que a embriagava e lhe roubava a consciência do momento.
As horas tinham-se esquecido dela num canto do tempo que fugia veloz. Tornaram-se meses e destes anos nasceram sem que ela soltasse os seus sonhos nas esquinas da vida. Era um corpo no deserto, existência esquecida entre grãos de areia ardente.
Não se lembra quando é que elas chegaram. Talvez a sua presença fosse uma constante…adormecida, mas real.
Não se lembra da primeira vez que elas lhe roubaram o conteúdo do sono obrigando-a a sonhar acordada.
Não se lembra das gotas de chuva que caíram na sua pele banhada de um sonambulismo pálido.
Lembra-se apenas de ser invadida por um desassossego, de um alvoroço descontrolado a alastrar dentro de si, uma ansiedade sem medida a roubar-lhe a realidade ausente em que vivia!
Inquietudes que chegavam de mansinho, como a espuma das ondas que de madrugada beijavam a orla da praia.
Inquietudes que cresceram, ramificando entre o seu ser e o seu pensamento.
Inquietudes que comandaram os seus dias, vestindo de certezas ocultas os seus esquecidos quereres.
Nessa noite vestiu o seu sorriso de água cristalina adormecido no armário da amargura; salpicou o corpo desperto de um perfume condimentado por gotas de feitiços mil; rosas acetinadas, rubras e bravias desceram pelos seus seios em trajes de desejos; cintilavam no seu olhar brilhos felinos do (re)encontro.
Com a solidão a tiracolo, fechada na carteira dourada- toque final do seu desígnio, abraçou a frescura da noite antes da vontade esmorecer.
Partia sem destino, mas com vontade. Atenta aos sons, às cores, ao sabor da descoberta. Quando entrou no bar, onde os dedos dedilhavam na mesa, olhou para o espelho longo que pintava a parede e admirou-se com aquela desconhecida que a mirava com um olhar de gozo. Aos poucos conseguiu reconhecer-se vinda de um mundo há muito esquecido.
Gostou do que viu. Sentia em si, a chama de outros olhares.
Eram inquietudes, mas vestidas com um novo traje, com o longo traje da paixão!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Fala-me do silêncio


Fala-me do silêncio
Que percorre as paredes do quarto…
Dos murmúrios lambidos
Aos meus ouvidos…
Do perfume da tua pele
A falar aos meus sentidos!
Diz-me as palavras que adivinhas
Nos lábios que sugas.
Apaga as marcas da saudade
Com a tua língua no meu seio
Quebra o soluço na viagem
Que fazes dentro de mim…
Canta-me a música
Que tornaste minha!


Quero aproveitar para desejar a todos um bom fim-de-semana e agradecer ao Tó Zé do blog http://www.cagalhoum.blogspot.com/ o belo trabalho em audio do meu texto "Dança Primitiva"


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Oferecer-te todos os sentimentos



Queria estender as mãos e partilhar
O azul deste extenso mar.
Guardar nos farrapos da memória
O teu olhar no meu rosto.
Ouvir as palavras gastas
Sussurrada pela enésima vez.

Queria ter asas sem penas para roubar
Este horizonte que percorres.
Ser multidão no teu peito
Oferecer-te todos os sentimentos!
Apenas nuvem sem forma, nem luz
Pedaços partidos de mim!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Rota de especiarias


De canela se desenha a pele
Que te oferece o sol faminto
Cheiro de amor intenso
No suor cansado que nos cobre

Corpo em doce abandono
em rota de especiarias
Entre mares revoltos
Vindos do Oriente.

Aromas que se misturam
Na cânfora da memória…
…brilham nos olhos engelhados
estrelas de aniz.
…vestes de erva de fogo
Sorte em mãos de artemísia.
Fortes traços de malagueta
Em picantes sentires
Calores de um fogo diferente
Sentes nos braços quentes
abraço que afasta a solidão!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Dança Primitiva






Quero que me sintas sem que eu te toque... as palavras em silêncio desassossegaram-no.
Não a tinha visto entrar e só nessa altura se apercebeu que ela trazia consigo a sua música preferida.
Sorriu ao seu olhar e admirou o negro em contraste com o alvo da sua pele.
Deixou-se preguiçosamente escorregar no sofá ao som das palavras que lhe colocavam brasas nas mãos suadas. Mais adivinhadas do que ditas provocavam-lhe um saboroso formigueiro no ouvido, que se estendia a todo o corpo.
A música enrolava-se na promessa que ela lhe fazia e pequenos sopros de um vento tardio de Verão eram como quentes beijos que ele tão bem conhecia.
Percebia agora o que ela lhe tinha dito...nunca tinha tido o seu tacto tão intenso, apesar de não o estar a usar. Adivinhava o toque que se desenhava na sua pele, o arrastar da língua nas veias salientes do seu pescoço, as palavras que ela colava ao seu ouvido ao som da música, o aroma embriagante que tão bem conhecia e que o enlouquecia. Pequenas gotas de suor ardiam-lhe na testa.
Olhou-a guloso e viu o seu corpo mover-se ao ritmo da música...as peças de roupa caíam lenta e suavemente no chão fresco...aquele sensual bailado desenhava formas que ele não imaginava existirem.
Mil e um dedos inexistentes percorriam-lhe o traçado do corpo elevando a sua excitação a um grau para além do suportável...
...a música aumentou de ritmo e ela aproximou-se como uma onda rebelde que o envolveu num remoinho de emoções.
Encontraram-se como se o sexo fosse uma dança primitiva que os seus corpos nunca esqueceram!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Presa a ti



Solto as correntes que amordaçam
O meu pensamento.
Corro descalça pela terra húmida
A germinar o fruto.
Corto as grilhetas castradoras
Que cerceiam o sangue quente
A brotar das veias.
Insubmissa, insaciável
Lanço-me no ar
Pois o meu destino és tu!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

HOJE É DIA DE DESAFIOS




O Chamas do Fénix do blog http://espiritosolido.blogspot.com/ fez-me um desafio.

As regras dizem que :
1° - A pessoa seleccionada deve fazer uma lista com 8 coisas que gostaria de fazer antes de morrer.
2° - É necessário que se faça uma postagem relacionando estas 8 coisas, não importando o que seja, é necessário que a pessoa explique as regras do jogo.
3° - Ao finalizar devemos convidar 8 parceiros de blogs amigos.
4° - Deixar um comentário no blog de quem nos convidou e nos nossos convidados, para que saibam da intimação.

então aí vai- sonhar:

1º que a coisa mais preciosa que possuo (a minha filha) será eternamente feliz
2º que o amor me continuará a surpreender em todos os minutos dos meus dias
3º que terei estabilidade a todos os nívei
4º que a felicidade poderá estar nas minhas mãos, basta para isso acreditar que pequenos "milagres" podem acontecer
5º viajar - um sonho de ontem, de hoje e espero que de sempre
6º que a minha infinita capacidade de sonhar e de sorrir nunca se esgotará
7º escrever, escrever, escrever
8º por fim, fico-me com o desejo de uns “trocados” extra e saúde para os gozar


Dizer as seis coisas que mais odeio foi o desafio que me foi lançado pela minha amiga Minucha do blog http://claras-em-castelo.blogspot.com/, então aí vai:

- mentira compulsiva
- inveja
- má educação
- injustiças
- hipocrisia
- falsos moralismos



Agora os links para os dois desafios:
- Cleopatra
- Olhos de Mel
- Suave Toque
- Maria P.
- Um momento
- Outono
- Pin gente
- Ví


Ora aqui vai mais um, a Cleo, do blog http://paginas-da-nossa-vida.blogspot.com/ desafiou-me a fazer um "meme"...são-me pedidas seis palavras para "uma muito curta" biografia e quem quiser pode complementá-lo com uma imagem!!!
Devemos colocar um link para quem nos desafiou e por nossa vez desafiar cinco blogues, avisando-os deste mesmo convite.

Sei que sou! O quê? Não sei!

A seguir um outro desafio também da Cleo que me põe a descrever uma memória numa frase de 6 palavras!!!
E porque nada é mais importante do que a minha Joana, dela são também as minhas melhores lembranças:

Nas minhas mãos um corpo – pedaço de mim!


Aí vão os nomeados:


- Fotógrafa

- Maria

- Outono

- Pena

- Efeneto

- Muguet


Salvem-se como puderem

Boa semana para todos

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mil dedos palpitantes



Como uma montanha russa
Que me atordoa e inebria
Uma inquietude que acusa
Domina, chora e arrepia…

Pensamentos sufocantes
Em estranhos labirintos
Sentir mil dedos palpitantes
A rasgar os meus segredos.

E sinto-me louca…sem pudor
Ardente e ofegante a respiração
Convite velado para que o meu odor
Transporte as marcas da tua paixão.

Será que na diferença insuportável
Ninguém consegue adivinhar
O turbilhão deste carrossel imparável
Que as minhas mãos não conseguem parar!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Afogo-me num beijo


Digo-te num minuto
Que te amo
E esse minuto é um todo
Para sempre.
Percorro a rua deserta
Que és tu deitado no asfalto
Negro da noite.
Torno-me companheira,
Fumo do teu desejo
Nesta paixão que é dos amantes.
Faço do olhar, a sedução
Quente e louca como só os poetas
Sabem sentir.
E na loucura espumante
Deste entrelaçado
Sussurro-te um segredo…

…afogo-me num beijo!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

“Sou a índia mais velha do pedaço!”


Quem disse que a pele não ganha os tons da terra em que nasceu.
Quando a fixei, respondeu-me sem lhe perguntar:
“Sou a índia mais velha do pedaço!”
Os seus cabelos grisalhos não a deixavam mentir, a sabedoria presa na força dos seus olhos negros como o bréu confirmavam a afirmação que só a força dos seus braços e a gravidade da sua voz podiam colocar em dúvida.
Era uma “pele-vermelha” sem o saber, embora a sua pele o deixasse adivinhar…e entre a farinha que pilava para que todos comessem, contou histórias de quando a terra era só deles e comungavam os mesmos espíritos que a natureza lhes ofereceu.
E hoje, com um mundo que já não reconhecia queria desistir, mas a força do seu olhar não a deixava descansar!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Queres ser a minha cinderela


Descia as escadas como quem percorria os degraus do inferno. O fumo de cigarros entediantes queimava-lhe os olhos, enquanto as pestanas batiam num ritmo desenfreado de revolta.
Estava cansada, como se o longo dia tivesse tendência a tornar-se ainda maior, só para lhe roubar as poucas gramas de boa-disposição que ainda lhe restavam.
As escadas pareciam intermináveis, tal como o seu dia!
Sentiu uma presença e um par de olhos preso a si. Levantou os seus, disposta a soltar um pouco do veneno que a consumia.
Entreabriu os lábios pela força da surpresa. Sentiu que todo o verde do mar a inundava.
Para trás esfumavam-se as marcas de um dia infinitamente doloroso. Palavras com o amargo sabor do café sem açucar que deixaram de fazer sentido, recriminações repetidas, monótona letra de uma balada triste, … tudo se perdia na bruma do passado
Agora, neste presente de dois desconhecidos, o ar tornou-se rarefeito enquanto as mãos procuravam um gesto banal para esconder o desejo.
O silêncio soletrava as rimas de um poema que ainda não sabíamos qual era, perdidos que estávamos na teia das sensações.
No percurso dos sentimentos que não conseguia travar, no olhar atrevido feito convite sentiu-se escorregar da escada que se tornou o seu porto de abrigo. Com vontade própria, a sandália rubra, da cor do verniz matizado saiu-lhe do pé dorido ao encontro da perna que lhe barrava a passagem.
Sorriu-lhe com os raios de sol prisioneiros nos dentes certos e brilhantes:
“Queres ser a minha Cinderela?”
A vergonha deu lugar a uma gargalhada em dois tons.
Saíram juntos, porque afinal nem sempre as escadas da dor conduzem ao inferno dos dias!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Bailado


A dança da vida
em passos incertos…
…musicais no teu corpo
adormecido nos meus sonhos!
Convite velado no toque indelével
dos dedos, que marcam ritmados
a tua presença na pele escaldante!
Poema a quatro mãos
Feito de palavras que sentem
a doçura da tua boca
salpicada de fruta fresca!
Passos gastos em abandono total
neste jogo sem vencedores,
no deambular sonâmbulo,
entre episódios marcantes
e números de azar sorteados
no acaso da sorte!

terça-feira, 29 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Na curva do meu desejo


Quando a noite adormece ao meu lado
Abraço-me com a luz do teu corpo
Silencioso, deitas-te dormente
Envolvido em feitiços-mil
Na curva do meu desejo!

Grito à liberdade que me inunde
Com a força da tempestade
e torno-me chuva a escorrer na tua pele
Sorvo as gotas que se soltam
E beijo os momentos de prazer.

Neste jogo de sedução
Emaranhado entre os dedos.
Acolho o teu calor na seda
Dos meus braços abertos
À fome do nosso desejo!

E esse olhar que sabe sorrir
Aos arrepios da minha pele
Preenche a dor deste vazio
Soltam-se os ecos na penumbra
Desta realidade ausente!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Rugas do tempo


Não tenho medo de envelhecer
Assusta-me sim a ideia
De ficar velha:
- de não conseguir sorrir
ao tempo que passa
- de não saber de cor
os pontos-chave do teu corpo
- de não me redescobrir
em cada instante
- de calar e consentir
esquecida da alegria de sonhar!

Ser noite sem corpo
Escuridão sem rosto
Nos contornos cortantes,
Nas marcas em ruínas
Que se impõe solitárias
Na serena conquista das nuvens negras
Que povoam os céus.