quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dias que se esqueceram de nós



Solta os meus cabelos longos
Na berma do teu corpo
Deito-me em profundo silêncio
Sem o cansaço dos longos dias
Que me apagam o fôlego.
Liberto-me da vida que se arrasta
Vamos correr serras douradas
De mãos dadas como dois namorados.
Vamos nadar nus entre as rochas
Que escondem a espuma das ondas
Colher braçadas de flores silvestres
Ignorar os picos que adornam os dedos
Com pérolas de sangue vermelho.
Enfeitar com margaridas brancas
O rosa entreaberto dos lábios
Que se abre ao sabor do teu beijo.
E no colchão de verde-relva
Deitamo-nos esquecidos dos dias
Que se esqueceram de nós.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pensamento táctil



Apaga-se a luz do quarto minguante da lua. Forma-se a tua forma no reflexo vaidoso do espelho. Olho, daqui, o teu corpo nas sombras da sombra em que me aninhei…adivinho-lhe os tremores nesta virose de um desejo incontido.
Descontrolo-te a febre deste querer em luta titânica contra a solidão.
Caem a teus pés palavras rasgadas no espaço anónimo das tuas mãos…
…adivinhas-me na escuridão da descoberta!
Na ponta dos dedos escorrem fios dourados da seara outonal dos meus cabelos. Inspiras o aroma de um perfume feito de enigmas sem tempo.
Descerram as pálpebras e vês em ti esta parte de mim!
Deslizo o dedo por entre as gotículas deste flute de champagne…pensas “apeteces-me” e a voz responde numa explosão de desejos…

…quando o pensamento se torna …táctil!

terça-feira, 12 de maio de 2009

contradições



Contra-adições, ou quero que sejam apenas subtrações de um desejo expresso num café fumegante nos teus dedos espartilhados de temor.
Contra apenas por ser ausência de adições de um qualquer grão de ti que espartilha os sentimentos neste corpo que perde consciência de si e se lava na água benta da purificação. Estremece em arrepios que convidam o frio para uma chávena de chá de menta adoçada com o mel que de ti nasce.
As memórias varrem o chão do pensamento e adormecem esquecidas na esquina do quarto. Toco-lhes no ombro e pergunto o que fazem ali...a tão longa distância de casa. Não sabem responder…fugiram num momento de amnésia e esqueceram o caminho de volta. Estavam perdidas naquele espaço desconhecido e recusavam-se a despertar. Sabiam-se memórias, mas não sabiam de quem...sabiam-se pensamentos mas esqueceram a forma!
Escorria nos dedos um passado tão longínquo que já tinha perdido a vida. Porque o passado adormece para sempre na sepultura do esquecimento.
No chão estendidas bocejavam indiscrições e procuravam no aconchego do vazio a sua estrutura para poderem tornar-se ocas de uma realidade sem corpo.
Contradições...
...sem adições de açucar ou qualquer conservante, a vida pode tornar-se uma toranja amarga!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Sereia…em pó de areia




Lambe a areia a pele salgada
Escorre por entre os dedos entrelaçados.
Cantamos suaves maresias
que espreitam o vagar das ondas.
…em redes de ouro
pescamos palavras encantadas,
pelo misterioso canto das sereias.
Ecoam rimas de beijos... lábios em flor
Debicam os pássaros alados
Melodias adormecidas
A despertarem sentires ocultos!
Escorre o mar líquidos
Espremidos do pó das estrelas
Cintilantes do nosso desejo.