
Voei num tempo em que o teu sorriso vaidoso dançava nos poros abertos do meu sentir. Memórias amareladas que recusei apagar e que em mim habitam, como partículas do meu ser… átomos que não se separam e que de negro se vestiram!
Como num filme antigo... revivido em que as legendas se ausentaram, personagens em silêncio movimentam-se ao ritmo de um enredo previamente delineado. Jorra poesia de um alma martirizada...escorrem rimas pelos dedos ansiosos.
Quis depositar uma papoila vermelha, mas nos filmes antigos o vermelho era proibido seria pela paixão que a cor fazia explodir!?! Importante era que tudo fosse igual ao que tinha sido.
Assim o mundo não se virava de pernas para o ar, assim o mundo podia rolar indiferente…sem vida.
..e de um sépia tingido de tempo em teias de aranha zangou-se com aquele sentimento que devia estar moribundo de esperança. Ralhou-lhe com palavras arcaicas que só os dicionários revestidos de poeiras insensíveis ainda arquivavam e não entendeu porque as suas palavras eram outras e falavam de uma ausência dorida.
Lembrou-se quando a mão desceu pelo colar colado à sua pele num toque que outro toque lembrava. As carícias eram sussurros que a sua voz trazia até si. Não queria que a saudade entrasse no seu peito. Admiti-la era reconhecer que o relógio da ansiedade tinha parado de bater...e isso ela não queria, precisava de se sentir viva nas memórias que transportava e, por isso abafava o esquecimento com as mantas de Inverno e galopava no seu dorso para que ele não vencesse.
Era um filme antigo com desbotadas cores de Outono, mas no silêncio daquele quarto permaneciam as mãos que teimavam em afagar as suas...e uma papoila vermelha venceu a resistência e teimou em florescer antes que o final se fizesse em ausência de cor!